Wednesday, November 24, 2010

Oficina sobre Consumo Crítico e Consciente O3C´s - Sábado 27 de Novembro

Oficina sobre Consumo Crítico e Consciente

O3C´s

Dia 27 de Novembro, Sábado, às 10h00

(duração aproximada: 2h00, 2h30)


Ponto de Encontro: Av. dos Aliados, em frente à C.M. Do Porto, junto à estátua de Almeida Garret

Inscrições Limitadas e Gratuitas


(possibilidade opcional de almoço vegetariano conjunto de tod@s participantes, após a oficina, na Casa da Horta – Associação Cultural, trazer também roupa e calçado confortável para caminhar)


É um "lugar comum" dizer-se que a nossa sociedade se globalizou. Talvez seja mais difícil, no entanto, compreendermos ou reflectirmos sobre as mais diversas formas e repercussões dessa mesma globalização na nossa realidade do dia-a-dia. Nunca como hoje os bens que consumimos vieram tanto e de locais tão distantes do nosso planeta. Mas que implicações concretas esse facto terá para cada um de nós?

Numa sociedade dita de consumo cerca de 20% da população dos países ditos “mais desenvolvidos” consome cerca de 80% dos recursos. Esse consumo, ou para se ser mais exacto, consumismo, tido como “normal” e até intrínseco no nosso modo de vida tem no entanto pesadas implicações ambientais e sociais. A nível ecológico é desastrosa a forma como a nossa espécie tem vindo a levar à exaustão os mais diversos recursos naturais do planeta, provocando uma destruição sem ímpar dos habitats selvagens da Terra. Para além disso, e paradoxalmente, uma grande parte dos bens produzidos (quase 90%) são produzidos para uma utilizaçõa efémera (uma única vez) sendo depois responsáveis pela produção de toneladas e toneladas de resíduos cujo tratamento implica também, ele próprio, uma elevada factura ecológica. De entre esses resíduos destacam-se os plásticos, muitos vezes particularmente complexos em termos de reciclagem e recuperação, e outros materiais que quando libertados no meio ambiente natural provocam danos bastante sérios nos ecossistemas e nas espécies animais (muitas aves e mamíferos marinhos, por exemplo, morrem por asfixia devido à ingestão dos mesmos).

A nível económico e social (instâncias que desde logo se encontram intimamente associadas, se é que existe qualquer separação sequer, aos aspectos ecológicos dos fenómenos) os impactos da dita mundialização da economia (outra forma talvez de designar um fenómeno com uma agenda ideológica bem marcada como é o neoliberalismo) estão longe de se traduzir em efeitos muito positivos para as comunidades locais.

Tendo-se os nossos hábitos de consumo (ou maus hábitos) tornado tão banais e inconscientes e questão que urge lançar é: o que podemos nós fazer para fazer a diferença? Para mudar positivamente o nosso estilo de vida adoptando comportamentos e hábitos mais conscientes e positivos do ponto de vista ecológico e social?

A proposta da Oficina sobre Consumo Crítico e Consciente é uma viagem de reflexão sobre o nosso estilo de vida através de lugares, cores e aromas nevrálgicos para a actividade económica, cultural e social da cidade do Porto. É uma viagem “viva” sobre alguns dos efeitos da globalização económica na nossa comunidade local, assim como um exercício prático de reflexão sobre as nossas escolhas e opções enquanto cidadãos consumidores, nomeadamente em termos de pegada ecológica. Podemos viver consumindo menos e melhor? Podemos viver sendo parte da solução em vez de parte nesse tremendo problema actual que consiste na quantidade de resíduos que produzimos diariamente?

A resposta a essa e muitas outras questões que certamente surgirão poderemos encontrar no coração da própria cidade invicta.

Facilitador: Pedro Jorge Pereira - Activista Eco-Social e Formador

Organização: Futuros Sentidos e Casa da Horta


Contactos e Inscrições:


Pedro Jorge Pereira

93 4476236

ecotopia2012@gmail.com


ou:


Futuros Sentidos

918744241

futurossentidos@gmail.com

http://futurossentidos.wordpress.com/


Wednesday, November 17, 2010

As Dez razões para dissolver a NATO


Texto retirado de: http://pimentanegra.blogspot.com/


As Dez razões para dissolver a NATO


Há 60 anos atrás foi criada a NATO para organizar a defesa dos Estados da Europa Ocidental e da América do Norte face à União Soviética. O fim da guerra fria retirou a razão de existir da NATO que, assim, ficou repentinamente sem inimigo. Começou, então, a reconversão dos seus objectivos políticos e militares a fim de justificar a sua existência. Na cimeira de Washington de 1999 redefiniu-se a estratégia da Aliança. Foi assim que, com a desculpa de contribuir para a estabilidade e a paz mundial, os líderes dos Estados membros decidiram ampliar o seu raio de acção de forma ilimitada para todo o planeta. Atrás desta mudança de estratégia está logicamente a vontade de controlar as zonas produtoras de recursos naturais de maior importância geoestratégia. Em 2002 na cimeira da NATO em Praga incorpora-se a luta contra o terrorismo internacional como um dos objectivos fundamentais e adopta-se a doutrina da guerra preventiva de Bush, o que colocou a Organização numa posição vulnerável face ao direito internacional.

Ora a melhor política de segurança é aquela que impossibilita a guerra. Para conseguir um mundo em paz, e mais justo, torna-se indispensável a dissolução da NATO.


Quais são as 10 razões que fazem da NATO um obstáculo para a Paz Mundial :


1) A NATO é o bloco militar mundial mais agressivo e mais belicista que potencia o aparecimento de novas guerras.

Com efeito, a NATO é uma organização militar que, desde 1999, decidiu abandonar o carácter defensivo da região do Atlântico Norte para adoptar uma estratégia ofensiva capaz de intervir militarmente em qualquer lugar do mundo. Tais intervenções militares podem provocar reacções em cadeia e a formação de novos blocos militares.

2) A NATO é uma organização não-democrática.

As decisões no seio da NATO são aprovadas fora de qualquer controle democrático, à margem dos parlamentos e instituições democráticas dos Estados membros, estando também sob o comando militar dos Estados Unidos da América. Uma resultante desse facto é que a NATO coage e restringe a política exterior dos Estados membros.

3) A NATO é, e tem sido, uma ameaça para a democracia.

A NATO aceitou que Estados não-democráticos tivessem sido seus membros, como foi o caso do Estado português da ditadura salazarista e do Estado grego da ditadura dos coronéis. A NATO participou também em conspirações e golpes antidemocráticos, assim como na manipulação da opinião pública. Ainda hoje fazem parte da NATO certos Estados pouco democráticos. O caso mais conhecido é o da Turquia.

4) A NATO tem como objectivo estratégico a guerra contra o terrorismo.

Uma vez desaparecida a URSS, a NATO ficou sem inimigo. Mas em vez de decidir dissolver-se inventou uma novo inimigo, o chamado terrorismo internacional. E foi com esse pretexto que interveio na guerra do Iraque em 2001, e agora no Afeganistão.

5) A NATO impulsiona e estimula novas corridas de armamento, e é por si mesma a ilustração mais viva do que é a militarização do mundo.

O aumento continuado dos arsenais dos países da NATO provoca o rearmamento reactivo de países como Rússia, China, Irão,…, assim como dos países que se consideram como seus rivais. A consequência de tudo isso é a crescente militarização do planeta.

6) A NATO é responsável pelo incremento das despesas militares, do crescimento da indústria e do comércio de armas a nível mundial.

O rearmamento constante dos Estados Unidos, assim como dos exércitos dos Estados membros da NATO, provoca um aumento contínuo das despesas militares, e promove a pesquisa em novas armas, assim como das indústrias que as produzem e do comércio que as vende. Não é, pois, de surpreender que os países da NATO representem 75% do total das exportações de armas no mundo.

7) A NATO promove a proliferação e a ameaça de guerras nucleares.

Os Estados Unidos possuem armamento nuclear em bases militares em solo europeu o que expõe os países europeus ao perigo de uma guerra nuclear.

8) A NATO define a imigração descontrolada como uma ameaça.

Toda esta estratégia de busca de novos inimigos e de ameaças imaginadas faz com que a NATO considere a imigração como uma ameaça. Esta postura de uma organização militar como é a NATO deve merecer a nossa maior preocupação

9) A NATO perpetua a tutela dos Estados Unidos da América sobre os Estados europeus e a política europeia.

Os governos europeus aceitam estar subordinados, através da NATO, aos interesses do complexo militar-indutsrial dos Estados Unidos. Esta situação impossibilita que a Europa assuma a função de promotora dos objectivos da Carta das Nações Unidas como o de evitar a eclosão de novas guerras. Para que isso seja possível torna-se indispensável a dissolução da NATO.

10) A NATO tem como função principal a defesa dos privilégios e dos interesses dos Estados mais ricos do mundo.

Esta é, indiscutivelmente, a razão mais importante para a subsistência desta organização militarista como é a NATO. O sistema sócio-econnómico dos países ricos exige o fornecimento permanente de matérias-primas que são vitais para manter o seu modelo económico que se mostra cada vez mais insustentável. A NATO é o instrumento militar que garante esse fornecimento, mediante o controle militar sobre os recursos e as regiões do planeta que são exploradas em benefício de um sistema depredatório e injusto.

Wednesday, October 13, 2010

Uma cidade auto-(i)mobbilizada




Uma cidade auto-(i)mobbilizada

Pedro Jorge Pereira


No passado dia 22 de Setembro assinalou-se, tal omo em anos anteriores, o “O Dia Mundial sem Carros”. Uma iniciativa que nos seus princípios pretende de alguma forma fazer pensar, e repensar, as políticas de mobilidade, particularmente no espaço urbano. Infelizmente pode-se concluir com relativa facilidade que em Portugal essa reflexão não tem vindo a produzir grandes mudanças ao nível das decisões políticas que se relacionam com mobilidade. O facto é que o predomínio do transporte automóvel individual sob todas as outras formas de transporte continua a ser avassalador e esse panorama deve-se, em larga medida, às decisões políticas que têm vindo a ser tomadas no sentido de manter e ampliar essa tendência. Claro que a dimensão da questão prende-se também, e em larga medida, com a sua dimensão cultural e sociológica. Todas elas encontram-se, de resto, profundamente interligadas.

O automóvel é por excelência o meio de transporte que mais exorta ao culto da individualidade, paradigma central no modelo ideológico neoliberal predominante. Em muitos países e culturas, ditas desenvolvidas, a emancipação social é avaliada em função da posse de veículo automóvel próprio e o prestígio social em função da marca e valor do mesmo.

Por detrás de toda esta cultura e exortação escondem-se factos talvez bem menos discutidos e considerados pela opinião pública. No cerne de todo este fenómeno encontra-se um elemento chave em todo o processo de auto-(i)mobilização da nossa sociedade: os combustíveis fósseis, nomeadamente o petróleo.

Sem qualquer dúvida, sem o petróleo toda a nossa realidade seria hoje muito diferente. A ideia de abundância e mito da riqueza infinita do petróleo levaram toda a sociedade, obviamente movida pelos interesses de grandes corporações financeiras sobretudo ligadas a essa mesma indústria, a auto-(i)mobiliazar-se, com óbvio destaque para as nações consideradas mais desenvolvidas.

O petróleo é sem dúvida a principal fonte de energia do século XX, com todas as tremendas vicissitudes por ele induzidas. De entre todos os sectores onde essas mudanças se reflectiram (praticamente a todos os níveis), desde logo ao próprio nível alimentar com a massificação do uso de pestícidas e fertilizantes químicos de base fóssil, o dos transportes é talvez um dos mais evidentes. No entanto o termo-nos tornado quase por completo dependentes dessa energia fóssil parece fazer-nos esquecer de um facto tão ou mais importante: o petróleo, sobretudo o petróleo a um preço “barato” para a maioria das populações, é uma realidade com os dias contados. E nesse perigoso esquecimento reside uma enorme incapacidade de estarmos preparados para o que poderá acontecer quando toda a economia não puder continuar a funcionar como tem feito até aqui. É algo para o qual simplesmente não estamos preparados. Tornamo-nos dependentes de recursos, alimentos, bens, transportados “do outro lado” do mundo. Uma imensidão de objectos e utensílios do nosso dia a dia são fabricados através de processos de transformação “petróleo-dependentes” ou contêm grandes quantidades de petróleo na sua composição (é a era do plástico e do descartável). E quando isso simplesmente já não for acessível? Um autor com reflexões e possíveis projecções muito interessantes a esse respeito é James Horward Kunstler.

As energias fósseis consistem, de uma forma muito básica, em matéria fóssil, em matéria orgânica, acumulada ao longe de milhares de anos na terra. Essa matéria fóssil é uma espécie de sintetização da energia solar assimilada mas, também, de enormes quantidades de carbono absorvidas sobretudo pela plantas ao longo desse mesmo período. A sua combustão implica, inevitavelmente, a libertação de enormes quantidades de dióxido de carbono para a atmosfera. A emissão desses gases de carbono tem as consequências que são cada vez mais conhecidas em termos de agravamento do fenómeno do aquecimento global. Por isso a utilização de combustíveis fósseis, que é um dos principais elementos que caracteriza a nossa sociedade, tem consequências extremamente nefastas para a ecologia do planeta. A promoção e enorme incentivo – político, económico e até cultural – a um estilo de vida “petróleo-dependente” e consumista é uma prática que, ainda que profundamente enraízada, se revela com contornos desastrosos para o meio ambiente e para os ecossistemas do quais dependemos directa e indirectamente para sobreviver.

Todo o processo de extracção, transporte, refinamento e utilização petrolífera se revela com tremendos impactos ecológicos, e por ecológicos considere-se tanto a dimensão ambiental como social da questão. Toda o quadro geopolítico internacional se movimenta em torno do acesso aos principais recursos energéticos, com natural destaque para o petróleo e gás natural. As populações locais raramente retiram grandes (se alguns sequer) benefícios da exploração dos recursos naturais das suas comunidades. Muitas vezes comunidades locais veêm todo o seu estilo de vida ancestral destruído (com a destruição em larga escala dos próprios habitates naturais que as suportam) e são obrigadas a deslocar-se das terras onde vivem há gerações e gerações para tentar sobreviver nas periferias dos já sobrelotados grandes centros urbanos, onde tudo o que lhes espera é uma vida regra geral completamente miserável.

Será que alguma vez pensamos nisso quando usamos e abusamos do petróleo? A forma como o “petróleo” entrou na nossa vida foi tão vertiginosa que já se torna quase utópico imaginarmos uma vida sem petróleo. Logo, imaginarmos também uma sociedade sem transportes automóveis. A banalização do seu uso atinge no espaço urbano um dos seus principais extremos.

Um outro aspecto crucial para a compreensão e reflexão sobre a questão prende-se com o fenómeno da “sub-urbinização” dos centros urbanos. Numa época não muito distante (há poucas décadas), anterior à emergência deste fenómeno, as pessoas geralmente não necessitavam de se deslocar grandes distâncias para trabalhar ou estudar nas cidades porque, regra geral, as zonas habitacionais situavam-se maioritariamente no interior ou muito próximas das mesmas. A vulgarização do uso do automóvel contribuiu, em larga medida, para o surgimento do fenómeno da especulação imobiliária como o conhecemos na actualidade. O mercado imobiliário em vez de privilegiar a recuperação e construção de habitações situadas no centro das cidades começou a orientar-se, movido simplesmente pela febre do maior lucro possível, de forma quase exclusiva para a construção em massa de subúrbios, geralmente caracterizados por construções de fraca qualidade e concentração de milhares de pessoas em áreas relativamente reduzidas, com tudo o que isso implica em termos ambientais. Edifícios de cimento e betão que vieram quase sempre ocupar espaços de considerável valor ecológico ou agrícola situados normalmente no exterior das próprias cidades. Aparentemente ficaram a ganhar as grandes empresas construtoras, os empreiteiros, os fabricantes de cimento e materias de construção que normalmente não se caracterizam por ser propriamente os mais ecológicos e com menores impactos para a saúde e para o ambiente. Aparentemente ficaram a ganhar as autarquias devido a um perverso sistema tributário que premeia as autarquias com maior número de edificações e habitantes. Quem ficou a perder no fundo fomos e somos todos nós. Perdemos áreas de elevado valor ecológico natural e agrícola, vitais para o regular funcionamento do nosso ecossistema e essenciais em termos de produção e auto-suficiência alimentar. Perderam as nossas cidades pois tornaram-se envelhecidas e a podridão e o abandono veio tristemente ocupar muitas das zonas onde anteriormente havia … pessoas, vida e actividade. Perdeu a nossa cultura com uma enorme descaracterização e desarmonia arquitectónica e o surgimento de subúrbios feios e cinzentos. Perdeu a nossa sociedade pois entre deslocações desnecessariamente acrescidas as pessoas quase deixaram de ter tempo para viver na e a cidade.

Perdeu e continua diariamente a perder o nosso planeta, e de que forma! É só fazermos a conta à quantidade de gases nocivos para o ambiente e para a saúde pública libertados em cada km por cada automóvel e à quantidade de automóveis que formam diariamente estes movimentos pendulares a nível mundial.

As próprias vias de comunicação rodoviária para além de também elas próprias largamente dependes do petróleo (e contribuírem para a manutenção de uma dependência dispendiosa e repleta de variados perigos) vieram também apropriar-se de espaços que pertenciam às cidades, às vilas ou, mais simplesmente, à própria Natureza e às pessoas.

Não deixa ainda de ser irónico pensarmos que uma parte muito substancial das deslocações são de muito curta distância, ou seja, poderiam perfeitamente ser efectuadas de forma pedonal ou, eventualmente, com o recurso a velocípedes ou outros veículos não motorizados.

Não é só em termos de destruição dos ecossistemas ecológicos que os efeitos negativos da “automobilização” se fazem sentir. Na realidade a nossa sociedade está a pagar uma factura demasiado elevada por exemplo em termos de saúde. Um estilo de vida sedentário e “carro-dependente” contribuem para a proliferação de forma epidémica da obesidade e doenças cardiovasculares, entre outros distúrbios afins.

A saturação do ar, particularmente nas cidades, por gases nefastos expelidos pelos milhares de automóveis que as invadem é um dos principais responsáveis pelo surto de doenças de foro respiratório que caracterizam as gerações pós-automobilização. Especialmente vulneráveis são as crianças e bebés que têm a esse nível uma qualidade de vida muito inferior à que os seus avós tiveram.

O stress induzido pelo próprio ruído do tráfego automóvel não é também um aspecto de menor gravidade. Especialmente afectadas são, claro, as pessoas que vivem nas proximidades dos principais eixos rodoviários.

Depois em termos de sinistralidade o tráfego automóvel traduz-se, na prática, quase como uma “guerra civil” que todos os anos, entre óbitos e feridos - muitos deles graves, vitima centenas de pessoas. Em 2009, só em Portugal, morreram (ou seja, só se está a falar dos acidentes mortais) 738 pessoas!!! (1)

Apesar de tudo isso, como é possível termos chegado a este ponto em que o espaço público urbano foi quase totalmente roubado pelo automóvel? Um espaço que era de encontro, circulação, de mobilidade e de expressão cultural foi simplesmente ocupado por largas estradas que mal deixam espaço para os peões poderem circular e por automóveis a circular muitas vezes a velocidades que tornam uma simples brincadeira de criança ou pequena distracção, por exemplo de algum invisual, num jogo de limbo entre a vida e a morte.

Se olharmos para as imagens antigas das nossas cidades vemos uma realidade bem diferente. Se viajarmos até ao período anterior à vulgarização do automóvel como meio de transporte, de todas as diferenças uma que sobressai é a de uma cidade bem mais ampla. O espaço que agora “pertence” aos automóveis pertencia às próprias pessoas. Sítios agradáveis, onde agora se concentram automóveis no exercício furioso do “pára-arranca”, eram preenchidos por crianças a brincar, grupos de pessoas falando e convivendo, por pessoas simplesmente circulando no seu espaço social e cultural.

Chegando a este ponto coloca-se a questão: O que fazer para inverter esta tendência que nos trouxe até este ponto?

Muito basicamente existem dois níveis predominantes de actuação:

O individual e o, digamos assim, político.

A nível das instituições e entidades públicas, em Portugal, não são muitos os bons exemplos no que se relaciona com a implementação de medidas de mobilidade realmente sustentáveis.

Não deixa por exemplo de se salientar claramente pela negativa o brutal desinvestimento na rede de transportes ferroviários, com uma evidente negligência e mesmo desprezo pelas populações do interior. (2)

“Num espaço de cerca de 30 anos, foram encerrados definitivamente 724 kms de linhas férreas, maioritariamente nas regiões de Trás-os-Montes e Alto Douro, Entre-Douro e Minho, e Alentejo.

Evolução da extensão de Rede Ferroviária Portuguesa ao longo dos últimos 100 anos:


1910 - 2898 Km

1974 - 3563 Km

2006 - 2839 Km”


Ou ainda

“As restrições orçamentais e o combate ao endividamento público no âmbito do Plano de Estabilidade e Crescimento (PEC) levaram a Refer a abandonar praticamente todos os projectos de modernização da rede ferroviária nacional, reduzindo assim o seu investimento para este ano de 800 para 200 milhões de euros.”(3)


A nível do espaço urbano são poucas as cidades susceptíveis de serem consideradas “sustentáveis” em termos de mobilidade.

Como de certa forma já foi referido, a “subalternização” dos peões face ao próprio automóvel fica bem patente, por exemplo, na tipologia das próprias ruas. Com passeios tantas vezes muito pequenos face à dimensão das próprias estradas.

A construção de mais parques de estacionamento no seu interior, a quase total ausência de ruas “livres” do tráfego automóvel, a escassez de faixas “bus”, ou a ausência de ciclovias (que geralmente não são consideradas como reais alternativas em termos de mobilidade mas somente na sua dimensão de lazer geralmente de fim-de-semana) não deixam de ser evidentes indicadores da sensibilidade (ou falta dela) política no que concerne à coragem para tomar decisões que libertem as cidades da “ditadura do automóvel”.

Está demonstrado pela experiência de várias cidades europeias que restrições sérias ao tráfego automóvel conduzem a uma melhoria acentuada dos próprios serviços de transporte público (desde logo pela maior taxa de utilização) e, claro, a um aumento da qualidade de vida no interior dessas mesmas cidades. Em Portugal, pelos vistos, ainda se considera que as infindáveis horas dispendidas no interior dos automóveis são horas de qualidade.

Normalmente o poder político só empreende mudanças efectivas em determinada questão quando existe uma massa crítica social suficientemente grande ou importante possuídora de capacidade de pressão sobre esse mesmo poder. Ou então pela sensibilidade particular de algum dirigente político .

Sem desprezar o enorme valor que acção colectiva de cidadãos pode ter no sentido de reivindicar efectivas mudanças políticas, aquilo que no imediato se perspectiva como a atitude mais valiosa por permitir fazer a diferença “aqui” e “agora” é a própria acção individual. Ou seja, aquilo que cada um de nós pode (e deve talvez) fazer para podermos viver num mundo melhor. Neste caso um mundo melhor, uma cidade melhor, é um mundo onde nos podemos libertar em larga medida da dependência do petróleo e, muito em particular, da nossa “carrodependência”. Não é necessariamente um mundo sem carros, mas é um mundo onde a mobilidade é estruturada muito mais em função dos meios de transporte colectivos e dos meios de transporte individuais não motorizados. Sendo que as bicicletas adquirem, nesse sentido, particular importância.

Algumas acções que cada um de nós pode empreender:


  • Usar mais os transportes públicos, nem que seja, numa fase inicial, através da escolha de um ou dois dias por semana de “não utilização” do automóvel

  • Descobrir o prazer e sensação de liberdade que o uso de uma bicicleta na cidade proporciona.

  • Reivindicar a criação de pistas cicláveis e lugares de estacionamento para velocípedes na tua cidade à imagem, de resto, do que sucede nos países mais desenvolvidos da Europa, onde, em muitos casos, a mobilidade urbana é predominantemente ciclista e feita através de transportes públicos.

  • Evitar, ou pelo menos reduzir, a utilização de meios de transporte emissores de CO2, sobretudo, por exemplo, o avião. Ainda para mais considerando que muitas das viagens consistem em distâncias relativamente pequenas e de curta duração.

  • A utilizar o automóvel, usar e incentivar sistemas de partilha de veículo.

  • Andar mais e mais a pé.

  • Fazer parte de associações ambientalistas e/ou grupos de pressão que tenham como objectivo reivindicar o espaço público para as pessoas e não para os carros.

  • Passar e divulgar a mensagem

  • Ser criativo na criação de “um mundo melhor”, num mundo com menos, muito menos, carros a circular e ocupar o nosso espaço público e cultural. Exemplos de alguns movimentos e iniciativas nesse sentido vão surgindo, felizmente, um pouco por todo o lado e Portugal não é excepção. (5)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. Autoportal, “Acidentes nas estradas fizeram 738 mortos em 2009” http://www.autoportal.iol.pt/noticias/geral/acidentes-nas-estradas-fizeram-738-mortos-em-2009

  2. Blog Braga-Porto40minutos

    http://bragaporto40minutos.blogspot.com/2009/04/factos-sobre-rede-ferroviaria.html

  3. Público, Carlos Cipriano 08 de Julho de 2010

    Outros

  4. Car Busters

    http://carbusters.org/

  5. Acção de Ocupação do Espaço Auto – (I)Mobilizado no Porto http://casadahorta.pegada.net/entrada/2010/09/28/relatorio-sobre-o-dia-mundial-sem-carro/ [consultado em 12 de Outubro de 2010]

    Movimento Massa Crítica

    http://www.massacriticapt.net/


Sugestões e Revisão Ortográfica: Sofia Barradas. Obrigado Sofia.

Sugestões e Comentários: Veronka Vaspal. Obrigado Veronka.

Monday, October 04, 2010

O debate sobre GUERRA, PAZ E NÃO VIOLÊNCIA 12 de Outubro, Porto




12 outubro, no Porto: Guerra, Paz e Não Violência

Assista e participe neste debate (18:00, terça 12 de outubro,
na Sala da Orquestra da Universidade Católica Portuguesa (Foz),
Rua Rua Diogo Botelho, 1327,
que assinala o pré-lançamento do livro PEREGRINAÇÃO ÀS FONTES,
de LANZA DEL VASTO
(obra disponível a partir de 30 de novembro de 2010)

Ouça também aqui cítara indiana tocada por Franklin Pereira.

Participe ainda na viabilização desta edição invulgar. Veja como:

http://www.sempreempe.pt/peregrinacao


Franklin Pereira tem tocado e gravado cítara indiana desde há algumas décadas
em Portugal, e tem estudado continuadamente esse instrumento,
nomeadamente, por diversas vezes, com mestres indianos na Índia

O debate sobre GUERRA, PAZ E NÃO VIOLÊNCIA

partirá de apresentações iniciais de

Jorge Leandro Rosa, um dos fundadores da ALOOC, Associação Livre de Objectoras e Objectores de Consciência; investigador no Centro de Estudos de Comunicação e Linguagens da Universidade Nova de Lisboa, Professor Associado na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, profundo conhecedor do pensamento de Lanza del Vasto, a cujas conferências em Portugal assistiu no final dos anos 1970

Jorge Teixeira da Cunha, Professor na Universidade Católica Portuguesa, Porto, teólogo, sacerdote e assistente da Comissão Diocesana de Justiça e Paz, autor de livros na área da bioética, entre os quais Bioética breve, de 2002, e de artigos em várias temáticas, incluindo, por exemplo, A teologia moral, a tolerância e o pluralismo ético

Mário Brochado Coelho, advogado, com numerosas intervenções cívicas ao longo da vida, autor de dois livros fundamentais para a compreensão da questão angolana (Em Defesa de Joaquim Pinto de Andrade e Lágrimas de Guerra (diário da guerra de Angola); agraciado em 2006 com a Ordem da Liberdade pelo Presidente da República

Pedro Jorge Pereira, autor do livro Be the Change you want to see (inspirado numa frase célebre de Gandhi, e escrito em português, apesar do título), animador do forum electrónico Mahatma Gandhi, activista no domínio ecológico, social, alimentar, dos direitos dos animais numa perspectiva altermundialista e não violenta

A organização é das Edições Sempre-em-Pé, que agradecem a cedência do local pela Universidade Católica (Centro do Porto), na Foz, e o apoio especial do Professor Jorge Teixeira da Cunha.


J. C. Costa Marques * Edições Sempre-em-Pé

Rua Camilo Castelo Branco 70/52 * 4425-037 Águas Santas
contacto@sempreempe.pt * Telefax 22 975 9592 * www.sempreempe.pt

nif 152 977 023 * nib 00 33 0000 45320830239 05 * IBAN PT 50 00 33 0000 45320830239 05 *SWIFT/BIC BCOMPTPL

Wednesday, September 15, 2010

Uma ecoreflexão sobre a Água

Uma ecoreflexão sobre a Água

Publicado na “Revista Vegetariana nº5”, Edição de Outono 2010

Pedro Jorge Pereira



Já todos ouvimos ou lemos nalgum lado, ou em vários lados, que a água é um bem precioso. No entanto coloca-se a questão de saber em que medida esse dado terá sido suficiente para efectuarmos mudanças realmente profundas no nosso próprio estilo de vida e, particularmente, naquilo que à água diz respeito.

Sendo na verdade um bem “tão valioso”, não deixa de ser paradoxal pensar que é precisamente na água que são lançados a maior parte dos resíduos domésticos e industriais (sobretudo os líquidos) produzidos pela nossa sociedade consumista. Na verdade todo o sistema de tratamento de esgostos é um enorme paradoxo e, porque não dizer, uma tremenda estupidez: Lançam-se na água toneladas e toneladas de resíduos, nomeadamente feses, urina, etc. para depois se terem de gastar milhões e milhões de euros a tentar tornar essa água que se contaminou minimamente “aceitável”. Claro que o dinheiro gasto é apenas um dos aspectos da questão. Raramente os sistemas de tratamento funcionam plenamente e raramente as soluções técnicas tornam possível uma total recuperação da qualidade da água.

Por outro lado não deixa de ser interessante referir que é precisamente a sua imersão na água que torna o processo de decomposição natural por exemplo das fezes demorado e complicado.

Claro que é assustador pensarmos em restruturar completamente todo o sistema de tratamento de esgostos mas de certa forma, ainda que passível de demorar décadas, é uma medida que deveria pelo menos começar a ser pensada se queremos resolver realmente a questão. Já existem diversas soluções, para já ainda de pequena escala, alternativas de sistemas de tratamento de resíduos. As “Casas de Banho Secas” são um óptimo exemplo de uma solução com baixos custos em termos de investimento e com um resultado em termos de tratamento praticamente 100% eficaz. Um site nacional sobre o assunto e que vale a pena visitar encontra-se em:

http://casasdebanhoecologicasportugal.blogspot.com/

Outros sistemas também bem sucedidos recorrem ao tratamento através de plantas que efecutam a depuração das águas e lamas contamiandas. São uma espécie de “pântanos” que, na realidade, constituem-se como um sistema biológico de tratamento de águas residuais.

É também fundamental referir que no que diz respeito aos consumos urbanos, cerca de metade desses consumos (à volta de 40%) prendem-se com o funcionamento das casa sde banho e cerca de 28% (!!! quase 1/3 de todo o consumo) com o autoclismo (1). Também aí o paradigma de consumo não deixa de ser no mínimo questionável se pensarmos que estamos a “desperdiçar” água potável e limpa para enviar os resíduos para os esgotos ao mesmo tempo que as águas ditas “cinzentas”, ou seja, as águas que resultam por exemplo dos banhos e lavagens, poderiam e deveriam perfeitamente ser aproveitadas para esse fim.

De certa forma a questão fundamental é que se continua a utilizar a água numa óptica marcadamente consumista, ou seja, acreditando-se que é um recurso, ou um bem, ilimitado e em relação ao qual não existe a relação de respeito e consciência que deveria existir. É fácil esquecer que a água canalizada é um “luxo” só mais ou menos recentemente adquirido pela maior parte da população portuguesa e que essa água não é de facto um “bem aquirido”. Em larga medida continua ainda a ser um luxo pois só uma parte da população mundial tem acesso a água potável e uma parte ainda menor tem acesso a água canalizada. Considerando os padrões de consumo actuais:

"Em Portugal o consumo médio de água anual num agregado familiar com quatro pessoas é de aproximadamente 180 m3 de água, o equivalente a 15 m3 de água por mês [por agregado ou 3,75m3/mês/pessoa]" (2)

"Cada pessoa com acesso a água da rede pública em Portugal consome, em média, pelo menos 154 litros de água por dia" [cerca 4,6m3/mês/pessoa] (3)

Não é preciso pensar muito para constatar que consumimos demasiada água. A mudança, acima de tudo, tem necessariamente que ser “cultural” e “educacional”. Provavelmente se não fizermos esforços realmente significativos e voluntários tendentes a reduzir os nossos padrões de consumo (também no que à água diz respeito) em breve teremos possivelmente que fazer esses esforços coercivamente, sobretudo devido à escassez e destruição de recursos naturais que o nosso estilo de vida esbanjador está a provocar. Portugal, nomeadamente face às alterações climáticas que infelizmente já se fazem sentir, será previsivelmente uma país muito afectado pela ausência de água dado que uma parte muito substancial do solo nacional encontra-se já numa situação técnica de desertificação. Não obstante, e mais uma vez paradoxalmente, continua-se a aprovar a construção de campos de “golf” e a edificação de “resorts” turísticos com indíces muito elevados de consumo de água precisamente em algumas das áreas mais críticas em termos de carência desta.

Àparte de todos essses aspectos fundamentais, e no que há água diz respeito, há um outro aspecto fundamental que raramente é mencionado ou analisado: O impacto que a nossa alimentação tem em termos de consumo de água, sobretudo se pensarmos numa alimentação não vegetariana.

Só para termos uma pequena ideia, aqui ficam alguns dados que dizem por si só imenso (senão mesmo tudo):

- Actividade responsável por mais da metade de toda a água consumida para todos os fins nos Estados Unidos: Criação de gado

- Número de litros de água necessários, na Califórnia,

para produzir 1kg comestível de:

Tomates: 39
Alface: 39
Batata: 41
Trigo: 42
Cenoura: 56
Maçã: 83
Laranja: 111
Leite: 222
Ovos: 932
Galinha: 1.397
Porco: 2.794
Carne de boi: 8.938


- Quantidade de detritos (fezes nomeadamente) produzidos a cada segundo por animais criados para consumo humano: 125 toneladas (o peso de 15 elefantes africanos adultos)

- Para se produzir cerca de meio quilo de carne bovina são necessários 7,5 kg de cereais, 9500 litros de água e energia, equivalente a quase 4 litros de petróleo.

- Na produção de uma dieta carnívora utilizam-se 48 m litros de água por dia, 2400 litros diários seriam o suficiente para a produção de uma alimentação vegetariana.


A magnitude destes dados é assustadora não é?

O impacto ecológico da produção pecuária é brutal não só em termos de recursos (da quantidade de água) que exige mas também em relação aos detritos produzidos e que, fatalmente, acabam lançados nas águas dos nossos rios e lençois freáticos.

Só para se ter uma pequena ideia da realidade nacional, diga-se que uma das áreas com maior concentração de suíniculturas do país, a região de Leiria, é também uma das áreas que apresenta maiores problemas em termos de poluição fluvial. O rio Liz, por exemplo, encontra-se praticamente contaminado com os detritos resultantes das explorações pecuárias, como podemos ver num artigo muito recente do Público-Ecosfera (4)

A realidade não é muito diferente no que diz respeito a aviários e, sobretudo, explorações bovinas. Para utilizarmos água de forma consicente é fundamental adoptar toda uma série de medidas de poupança e de redução significativa dos consumos, medidas que vão deste a adopção de hábitos de consumo mais saudáveis e equilibrados até à reutilização das águas usadas por exemplo para rega. Mas será que podemos ser “ecológicos” e, ao mesmo tempo, continuar a comer carne, sobretudo nas proporções que esse consumo adquire no nosso mundo dito “desenvolvido”?

Tendo noção do impacto que a produção pecuária aduire em termos de quantidades de água consumida e de detritos produzidos (quer em termos quantitativos, pelo seu volume, quer em termos “qualitativos”, pela grau de dificuldade e custo que o seu tratamento implica) será que nos podemos dar ao luxo de querer poupar água e, ao mesmo tempo, continuar a comer carne sobretudo nas proporções que a grande maioria das pessoas ainda o faz actualmente?

A adopção de um estilo de vida vegetariano, ou pelo menos maioritariamente vegetariano, não é só uma atitude ética positiva para com os animais que são explorados e sacrificados para a “produção” de carne. É também um gesto de respeito para com o próprio Planeta Terra e de protecção dos habitates naturais ameaçados e sacrificados para a produção pecuária. Ao mesmo tempo, evitar a destruição desses habitates é também um gesto de protecção de toda a vida selvagem (fauna e flora) que deles depende. E é importante não esquecer que também a nossa própria vida depende da existência de habitates naturais preservados (florestas que nos fornecem o oxigénio vital à vida, rios com água limpa e saudável, etc.)

Há sempre imenso que podemos fazer e mudar para tornar o nosso estilo de vida mais equilibrado e com um impacto ambiental bem mais pequeno. Uma grande parte dessas acções e mudanças passam, sem qualquer dúvida, pelo nosso prato. Na escolha consicente e informada daquilo que realmente optamos, ou não, por incluir na nossa alimentação.

Uma das formas mais directas de preservar os nossos recursos hídricos é evitando contribuir para algumas das actividades que maior ameaça têm vindo a constituir para esses mesmos recursos, nomeadamente a indústria pecuária e a agricultura industrial, que recorre amiúde a fertilizantes e pesticidas químicos que inevitalmente escorrem para os cursos de água superficiais e subterrâneos.

Agora que já sabes, o que vais escolher para o jantar?

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

(1) Planeta Azul – Portal do Ambiente e Sustentabilidade sobre o “Consumo de Água”

http://www.planetazul.pt/edicoes1/planetazul/desenvArtigo.aspx?c=2249&a=15762&r=37

(2) Semanário Labor.pt

http://www.labor.pt/noticia.asp?idEdicao=113&id=5217&idSeccao=1070&Action=noticia

(3) Blog Ambiente e Qualidade de Vida

http://ambientequalvida.blogs.sapo.pt/42283.html

(4) Público – Ecosfera

Poluição já atinge a foz do rio Lis em "níveis preocupantes"

http://ecosfera.publico.pt/noticia.aspx?id=1441954




I Colóquio sobre Educação e Ética Ambiental

Monday, July 26, 2010

ainda a propósito dos comboios

A política de “aniquilamento” do transporte ferroviário que tem vindo a ser posta em prática pelos sucessivos governos e entidades supostamente responsáveis é, no mínimo, criminosa. Desastrosa do ponto de vista ecológico, cultural e também social. Um modelo de transportes baseado num paradigma em torno do transporte automóvel individual, e na “asfaltização” desenfreada do país, produz um modelo de total insustentabilidade e é uma aposta desastrada cujas consequência se virão a fazer sentir cada vez mais à medida que o preço dos combustíveis fósseis, como é inevitável, começar a subir ainda mais. Uma política que beneficia os lobbies do asfalto e do betão, os fundamentalistas dos cifrões, mas desastrosa para o meio ambiente e para o desenvolvimento da sociedade. É triste. É muito triste “o comboio” ter tantos inimigos, a começar, paradoxalmente, no interior da própria CP. Pudera, administradores “boys” que raramente saiem dos seus “bmw´s” ou “mercedes” que sensibilidade é que poderiam manifestar?

E nós, vamos ficar a ver os comboios passar rumo ao seu aniquilamento por parte desses senhores de gravata?

Petição pela requalificação da linha ferroviária do Oeste


A linha ferroviária do Oeste corre o risco de desaparecer. Construída no final do séc. XIX para servir as populações e as cidades ao longo do litoral, entre Lisboa e a Figueira da Foz, a Linha do Oeste nunca se modernizou e a CP tem vindo a reduzir serviços, a pretexto da sua fraca utilização.

Por favor assina e divulga.

Saturday, July 24, 2010

2007 Jul Comunicado Movimento Pela Linha do Tua

Um comunicado que, mais uma vez, não podia deixar de subscrever na totalidade ... é simplesmente inadmissível num país dito civilizado o que a ganância "barragista" está a fazer ao património natural e cultural do nosso país, neste caso ameaçando uma das linhas ferroviárias mais belas do mundo ...

O MCLT – Movimento Cívico pela Linha do Tua, vem manifestar-se totalmente chocado com a série de eventos que ocorreram desde o passado dia 9 de Julho até hoje, relacionados com a Linha do Tua. Manifestamo-nos com grande pesar, pela evidência do desaparecimento de qualquer sentido de ética, de dever nacional e de respeito pelos princípios básicos da democracia, consagrados na Constituição da República Portuguesa, por parte de alguns intervenientes.

A impressionante sucessão de disparates proferidos pelo Ministro e pelo Secretário de Estado dos Transportes na comissão parlamentar sobre a Linha do Tua do passado dia 9 foi de um tal grau de ofensa e de manifesto desprezo por esta via-férrea e pelos trasmontanos, que a consideramos abusiva e reveladora da total disparidade deste Ministério ser representado por duas figuras tão indignas e hostis para Trás-os-Montes. Foi manifesta não só a incompetência, já demonstrada anteriormente pelo Secretário de Estado sobre a Linha do Corgo, mas também o grosseirismo. Como tal, o MCLT exige a DEMISSÃO imediata do Ministro António Mendonça, e do Secretário de Estado Carlos Fonseca, aproveitando para clarificar algumas das falsidades por si proferidas e sustentadas:

1 - Se cada utente da Linha do Tua custasse ao Estado 29 mil euros por ano, e mesmo considerando uma procura média da Linha do Tua de 40 mil passageiros por ano (asfixiada graças à negligência da tutela, CP, REFER, e entidades de promoção turística), teríamos que a Linha do Tua custaria 1.160 milhões de euros por ano (300 milhões de euros menos do que custará o troço do TGV entre Poceirão e o Caia, e 500 milhões de euros a mais que os custos da CP durante 2009). Ora, sabendo que o Metro de Mirandela precisará de cerca de 30 mil euros por mês para honrar os seus compromissos, e considerando uma verba para conservação da linha em 250 mil euros por ano, a verba apontada como custo pelo Ministro daria para suportar a operação da Linha do Tua durante… mil e novecentos anos.

Lembramos ainda que a Linha do Tua foi, talvez e apenas a par de alguns serviços suburbanos e do Pendular, a única linha portuguesa onde a oferta era claramente inferior à procura; não precisamos lembrar os tristes episódios de excursões que não embarcaram na estação do Tua por falta de lugares, as dezenas de circulações que se efectuaram com a lotação esgotada, ou mesmo o episódio em que D. Duarte Pio não embarcou no comboio por falta de lugar e não ter sido dada autorização para engatar outra automotora, que estava totalmente disponível.

Solicitamos também informação sobre qual o prémio a atribuir às populações do Oeste para desistirem de vez do comboio, uma vez que tendo comboios a sair e a chegar de estações tão periféricas como o Oriente ou Entrecampos-Poente, pudemos observar que à passagem pela estação de Agualva-Cacém estes transportam 5 ou 6 passageiros, diariamente. Opção: feche-se, ou renove-se e promova-se a Linha do Oeste, numa região considerada prioritária pelo PENT?

2 - Com 40 milhões de euros reabre-se a Linha do Tua entre o Tua e o Cachão; com 25 milhões de euros reabre-se a Linha do Tua entre a Brunheda e o Cachão; com 150 milhões de euros reabre-se a Linha do Tua do Tua a Bragança, com material de via melhor que o actual. A estação de Castanheira do Ribatejo custou 35 milhões de euros; o Estádio de Aveiro custou 62 milhões de euros; semelhanças: ambos estão às moscas. Voltamos a insistir: mesmo que a barragem do Tua seja feita, o espelho de água não chegará à Brunheda; porque continuam então os comboios confinados ao troço Mirandela – Cachão, que tantos prejuízos está a causar aos utentes, ao Metro de Mirandela, e à região?

3 - O EIA da Barragem do Tua afirma (e o MCLT já está cansado de o apontar): a zona envolvente não apresenta condições propícias ao transporte rodoviário de passageiros. Porque se continua a insistir no erro de tentar substituir a Linha do Tua com autocarros e as exasperantes estradas da região? Será que o Ministro e o Secretário de Estado as conhecem? Será que sabem que no troço encerrado entre Mirandela e Bragança os autocarros de substituição só duraram 5 anos, e custaram 90.000 passageiros à Linha do Tua, tendo registado acidentes com vítimas mortais e vários feridos?

4 - Como ficou bem demonstrado pelo professor da UTAD Rui Cortes – um dos intervenientes na execução do EIA da Barragem do Tua – no passado sábado num debate no Museu do Douro sobre a Barragem do Tua, “A ideia idílica de ter uma grande massa de água não se vai verificar. Pelo contrário, será uma situação muito desagradável com grandes variações de cota que não são propícias para fins turísticos”, proporcionando “um grande efeito de erosão e uma perda absoluta do solo em redor”, e afirmando ainda que “as emissões de gases de efeito de estufa a partir das grandes albufeiras representam cerca de quatro por cento do total de emissões a nível mundial”. São duas bandeiras da Barragem do Tua que, já mal sustentadas, caem de vez por terra, demonstrando uma vez mais não apenas a sua inutilidade como o seu poder destrutivo ambiental e do desenvolvimento económico-social.

5 - “Há uma dinâmica territorial que tem levado as pessoas para o Litoral”; “não é por criarmos oferta de transportes que se fixa as pessoas”, como o demonstra “a experiência mundial”; palavras do Secretário de Estado dos Transportes. De facto, nenhum trasmontano gosta da sua terra, e prefere mil vezes fugir para Lisboa a 400 ou 500Km de casa e enfrentar todos os problemas sociais derivados da sobrepopulação do território, a que lhe sejam garantidas condições de habitabilidade sem migrar para longe. Solicitamos ao senhor Secretário de Estado que, antes de abandonar as suas funções, o que fará imediatamente se tiver vergonha na cara, demonstre aos portugueses exactamente qual experiência mundial suporta que a criação de oferta de transportes não é uma condição de suma importância para a fixação das pessoas numa região.

A solução unimodal é apenas uma senhor Ministro: a Linha do Tua reaberta, modernizada e prolongada, do Tua a Bragança e ao Lago da Sanábria. As evidências apontam para isso, e é preciso ser cego, ou demagogo e motivado por interesses mesquinhos e danosos para o negar.

Perguntamos ainda aos senhores Ministros dos Transportes, do Ambiente (Portugal tem tido Ministério do Ambiente desde 2005?) e da Cultura, se sabiam destes factos. Agora que sabem, endereçamos-lhes uma pergunta muito simples: o que vão fazer a partir de agora, se é que têm competência para o saber fazer, porque de “nins” ou artifícios não reza a História do Desenvolvimento.

Mas como a falta de ética e sentido de realidade e respeito não é patente apenas no Ministério dos Transportes, foi hoje noticiado que a EDP, em pleno ano internacional da biodiversidade, propôs a criação de um parque natural que englobe a área das barragens do Baixo Sabor e de Foz Tua. Uma empresa que está obstinadamente apostada em destruir dois vales praticamente intocados, plenos de biodiversidade e valor paisagístico, a propor a criação de parques naturais, é de um mau gosto demagógico inqualificável. Pedimos também um esclarecimento sobre qual dos dois está claramente a mentir: se o senhor Ferreira da Costa, administrador da EDP Produção, ao dizer que a Associação de Municípios do Baixo Sabor deu o seu aval à criação de um parque no vale do Sabor, ou o senhor Aires Ferreira, autarca de Moncorvo e presidente da Associação de Municípios do Baixo Sabor, ao classificar este parque como “uma ideia que não tem pés nem cabeça”; a confusão é evidente.

Numa nota solta, lamentamos a desfaçatez do autarca moncorvense: é de facto notável que quem apoie a construção da megalómana barragem do Sabor se apresente agora com moralismos atestando que “A biodiversidade do Sabor é muto mais interessante do que a do Tua”. De facto, em política em Portugal, tudo é possível.

Manifestamo-nos portanto totalmente contra esta brincadeira de mal gosto, de quem vem para Trás-os-Montes destruir património e biodiversidade, e avança com propostas de parques naturais e núcleos museológicos, como se uma mão lavasse a outra.

A nossa proposta para a EDP é muito simples: se quer compensar os trasmontanos por perdas, pode começar a fazê-lo por cada grande barragem já construída, ao reforçar a potência instalada, e prevenindo desperdícios de caudal, e baixando a tarifa da electricidade na região que mais contribui com energia hidroeléctrica para Portugal. Se a sua vontade inabalável em trazer desenvolvimento se mantiver, pode também contribuir generosamente com os seus chorudos lucros e ordenados dourados para a reabertura, modernização e prolongamento da Linha do Tua. Construir a barragem do Tua, não.

Mirandela, 21 de Julho de 2010.



--
MCLT - Movimento Cívico pela Linha do Tua
http://www.linhadotua.net

Monday, June 28, 2010

caça à baleia - vergonha nipónica









O governo Japonês (entenda-se, não necessariamente o Japão e menos ainda todos japoneses: há cada vez mais nipónicos, sobretudo jovens, que se opõem a esta bárbara tradição) pratica uma ilegalidade ao caçar baleias e golfinhos (a não perder o filme, com imagens obtidas em enorme secretismo, "The Cove"). Toda a gente sabe que a hipócrita desculpa da caça científica é isso mesmo, uma tremenda mentira, como atestam de resto os navios utilizados que são simplesmente de caça à baleia tradicional, sem qualquer valência ou carácter científico.

Paul Watson é um herói, que faz aquilo que deveria ser feito por uma espécie de polícia internacional dos mares, persegue os navios que estão a delapidar as riquezas dos nossos Oceanos e a cometer crimes que antes de tudo o mais são morais. Caçar baleias e golfinhos em pleno século XXI, quando cada vez mais se sabe do enorme grau de desenvolvimento sensorial destes seres, é um crime contra a humanidade que deveria ser exemplarmente punido.
É execrável como a Interpol persegue aqueles que fazem o bem mandatada por aqueles que são os verdadeiros criminosos.
Viva a Sea Sheperd. Shame on You Japonese Government! Shame on you Interpol

Nova Zelândia pondera levar Japão e caça à baleia a Tribunal Internacional de Justiça
25.06.2010
PÚBLICO http://ecosfera.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1443678

O Governo neo-zelandês decidiu ponderar levar o Japão e a caça à baleia ao Tribunal Internacional de Justiça, depois do fracasso das negociações da Comissão Baleeira Internacional (CBI) esta semana em Agadir, Marrocos.
A Nova Zelândia pode, assim, juntar-se à Austrália, país que anunciou no final de Maio que iria levar o Japão ao Tribunal de Haia.
“Tendo em conta o fracasso das negociações em Marrocos, vamos agora ponderar apresentar um processo junto do Tribunal Internacional de Justiça”, declarou ontem em comunicado Murray McCully, ministro neo-zelandês dos Negócios Estrangeiros. “Prevejo que a decisão seja tomada muito em breve”, adiantou, sublinhado a sua “decepção” com o beco sem saída a que chegaram as negociações.
Um dos maiores objectivos da delegação neozelandesa era conseguir um “acordo sobre o fim da caça à baleia nas águas da Antárctida o mais depressa possível”, explicou. Ainda assim, acrescentou, mesmo que o processo a decorrer na CBI não avance este ano, a Nova Zelândia vai “continuar a usar todos os meios disponíveis para alcançar o nosso objectivo”.
A Austrália decidiu levar o Japão ao Tribunal de Haia porque, diz, está a caçar baleias na Antárctida em nome da investigação científica.
Todos os anos, o Japão caça centenas de baleias em nome da “investigação científica”, uma excepção prevista na moratória da CBI à caça comercial, em vigor desde 1986. Em 2008/2009, as embarcações japonesas mataram 1003 baleias, ou 52 por cento das 1929 caçadas em todo o mundo. O número para a época de caça de 2009/2010, é de 850 baleias-anãs e 50 baleias-comuns. A Austrália e a Nova Zelândia anunciaram em Janeiro uma expedição para demonstrar que é possível estudar baleias sem as matar.
Ecologista contra a caça à baleia colocado na lista da Interpol a pedido do Japão
A Interpol colocou o responsável pela organização Sea Shepherd numa lista internacional de homens procurados, a pedido do Japão, foi hoje revelado.
A Guarda Costeira japonesa afirma que a Interpol aceitou listar o canadiano Paul Watson por este, alegadamente, conspirar para danificar os navios baleeiros que fizeram parte da frota japonesa no início deste ano.
Outro activista desta organização – que todos os anos tenta dificultar a caça à baleia, perseguindo a frota japonesa -, Peter Bethune, está a ser julgado em Tóquio por invadir propriedade alheia, neste caso, um navio baleeiro japonês.

Monday, June 14, 2010

AGRICULTURA URBANA
















Pela sua tremenda qualidade, torna-se "inevitável" divulgar mais um artigo do Bernardino Guimarães, neste caso sobre as Hortas Urbanas. Creio que as Hortas Urbanas irão adquirir cada vez mais importância e irão-se tornar cada vez mais essenciais num panorama a meu ver muito próximo de agudização da crise económica e escassez alimentar provavelmente derivada do fim da era dos combustíveis fósseis baratos. Seja pelo que for é cada vez mais essencial haver espaços agrícolas também no interior dos próprios centros urbanos. Por muitas razões. Desde logo parece-me que a alimentação terá que passar bastante pela própria auto-produção.

Quarta-feira, Maio 12, 2010
AGRICULTURA URBANA
http://peregrino-bg.blogspot.com/

O sucesso das chamadas «hortas sociais» onde quer que tais experiências tenham sido realizadas, no Porto, em Gaia, na Maia e em outros concelhos, vem confirmar a razoabilidade da agricultura urbana e a sua necessidade. Claro que se trata de iniciativas limitadas e parcelares, que cumprem antes do mais o objectivo de oferecer, a moradores de bairros sociais, uma forma saudável e útil de preenchimento do seu tempo, em ambientes urbanos onde a natureza é uma ausência e os problemas sociais de isolamento se fazem sentir. Já não seria pouco. Mas outros «formatos» de hortas sociais provam, com igual sucesso, que a vontade de cultivar uma pequena parcela, como passatempo mas também como fonte de alimentos frescos, existe e manifesta-se em qualquer meio social. De resto os candidatos a «agricultores citadinos» ultrapassam em muito a disponibilidade de terrenos para o efeito.

A agricultura nunca abandonou totalmente as cidades, e concretamente a área urbana do Grande Porto. Em todo o caso, o que sobrou de uma expulsão metódica e vertiginosa é agora residual. Entendeu-se que campos lavrados, assim como bosques ou até rios correndo nos seus leitos de sempre, representavam como que vestígios da «atraso» e de «arcaísmo» pouco condizentes com as sucessivas ondas de «progresso» medidas em cubicagem de cimento e asfalto.
Ainda não há muitas décadas, o abastecimento de bens alimentares de primeira necessidade das áreas urbanas fazia-se em termos de relativa proximidade. Mesmo na cidade do Porto, boa parte dos legumes e frutas vendidos nos mercados eram colhidos a escassos quilómetros de distância da residência dos seus consumidores.
Tudo mudou, é certo. Hoje, milhares de quilómetros, vencidos a bordo de camiões através da generosa rede de auto-estradas, são atravessados até que cheguem ao seu destino final. Altíssimo consumo de energia, servindo uma rede de grandes superfícies onde o acesso só é possível com recurso ao automóvel, eclipse dos velhos mercados de frescos e do comércio tradicional---acompanhando o despovoamento do casco velho das cidades— eis alguma das consequências deste novo estado de coisas. Insustentável e oneroso, sem dúvida, mas que o será ainda mais caso, como tudo indica, o preço dos combustíveis fósseis venha a aumentar duradouramente.
Precisamos de reabilitar a produção de alimentos numa lógica de proximidade, preservando os terrenos que ainda existam para esse efeito.
Em todo o mundo, a agricultura urbana ganha expressão e é levada a sério pelas autoridades em termos de planeamento territorial, quer no interior das cidades, quer nas suas periferias. Paris, Londres, Berlim, por toda a Europa avança essa ideia que corresponde a uma necessidade. Ou a várias: mais espaços verdes e de recreio, alimentos de qualidade controlável, economia de energia e racionalidade económica, melhoria da saúde das populações. E ainda mais uma que tem sido esquecida: a segurança alimentar, no sentido de que é urgente assegurar, se não auto-suficiência, pelo menos alguma capacidade de responder a uma crise global que pode ser de penúria de alimentos, como ainda bem recentemente se tornou subitamente visível.
Em muitas cidades norte-americanas, São Francisco, Salt Lake City e outras, estuda-se a forma de cultivar hortas e pomares no topo dos prédios, dada a carência de terra arável. Por cá ainda não chegamos a tanto, mas vai sendo tempo de prevenir o futuro, cuidando do essencial que é a sustentabilidade e a qualidade de vida dos habitantes das grandes metrópoles.
Bernardino Guimarães

(Crónica publicada no Jornal de notícias em 11/5/010)


Tuesday, May 25, 2010

LAVAGEM VERDE

Um excelente texto que exprime de uma forma muito bem conseguida este "fenómeno" moderno do "greenwashing" ou em bom português "lavagem verde". E nos tempos modernos a imagem é quase tudo, é muito mais importante a imagem que se dá (e na qual se investem milhões e milhões de euros em "cosmética propagandística") do que a realidade que se esconde por detrás dessa mesma imagem ... é triste como estes vendedores de ilusões nos vendem a sua "banha de cobra" ... e ainda mais triste é como os deixamos vender ...

LAVAGEM VERDE

http://peregrino-bg.blogspot.com/2010/04/lavagem-verde.html


Greenwaching», nem mais, ou «lavagem verde» para não cairmos na detestável moda de utilizar palavras e chavões em inglês em todo e qualquer discurso que se pretenda «actual». Actualidade em português não falta a este tema, digo eu, tão diligentes são as mentes que anunciam, todos os dias, produtos, marcas e actividades cada vez mais «verdes.» Se verdes são os campos primaveris, esta cor que nos transmite esperança surge associada a quase tudo; o leitor, em querendo confirmar o que digo, só terá de compulsar os jornais, perder algum tempo vendo publicidade na TV. O «marketing» virou-se para a ecologia e tudo, mas tudo, vende melhor com esse perfume de clorofila e de ambientalismo comercial. Bancos, cosmética, automóveis, condomínios, lixívias, centrais atómicas, o que seja, não passam sem nos demonstrarem o quanto são amigos do ambiente e amorosos com a Terra. A palavra-chave é quase sempre «sustentabilidade.».

Mas sustenta-se mal face aos factos, muita desta profissional «lavagem verde» --que podemos definir como sendo a prática de empresas e instituições alterarem dissimuladamente os seus produtos e actos de forma a parecerem mais amigas do ambiente.

Há quem diga que este fenómeno, de expressão global, também traz consigo alguma coisa de bom. Pelo menos indica, com o seu manto diáfano de fantasia, alguma preocupação com o ambiente. Nem tudo pode ser mentira, alguma verdade lhe há-de ser misturada, caso contrário seria demasiado evidente. Compreende-se a observação. Só que de facto, em certos casos, não existe mesmo nem sombra de autenticidade nesta venda enganosa de ilusões.

Li outro dia um trabalho de uma organização internacional, os Amigos da Terra, no qual constavam exemplos instrutivos: um anúncio da Shell mostrava flores saindo da chaminé de uma refinaria de petróleo, em vez de fumo negro. Uma grande campanha da indústria do óleo de palma apresentava o seu produto como «solução verde», antes que os consumidores soubessem da devastação que o cultivo do mesmo causou e causa nas florestas tropicais e os conflitos com os agricultores africanos, por exemplo. Uma empresa inundou as televisões de vários países com publicidade ao carvão (imagine-se) como energia limpa…ilustrada com anúncios onde surgiam modelos em poses sexy a trabalhar numa mina!!! Risível ou não, quem não vê por cá coisas parecidas?

Lembrei-me logo da campanha omnipresente da EDP sobre as barragens, com imagens de cegonhas-pretas e águias-reais— precisamente espécies que perderão o seu habitat com a construção das barragens! Mesmo quem apoie a solução hidroeléctrica, por outras razões, não pode deixar de aceitar que haverá perda de biodiversidade, pelo que alguma forma perversa e subliminar de controlo das mentes deve ter sido ensaiada. Vale a pena ler o escritor George Orwell e as obras onde denuncia a «novilíngua» com a qual se subverte a linguagem, trocando o sentido das coisas de modo a confundir…e a reinar!

Quem defende os consumidores e a verdade no mercado?

Claro que existem etiquetas fiáveis, rótulos de confiança— mas é preciso conhecê-los bem!

E a «lavagem verde» dos poderes políticos, centrais ou locais? Será menos perniciosa? De facto pode ser que seja ainda pior, e as técnicas de «marketing» usadas são igualmente muito sofisticadas…ou descaradas. Um número de telejornal e eis que as políticas de betão no urbanismo, e da rodovia nos transportes, ou das «grandes superfícies» no comércio…se redimem com quaisquer proclamações de plenas de «sustentabilidade!»

É uma pena, mas nesta coisas, meus amigos, não se pode ser ingénuo!

Bernardino Guimarães

(Crónica publicada no Jornal de Notícias, 27/4/010)



Friday, May 21, 2010

// Ciclo de cinema – Que alimentação para o século XXI? Porto



Neste início de século, a forma como nos relacionamos com o mundo está a ser transformada em todos os aspectos.


Vivemos concentrados em grandes centros urbanos com uma vida cultural abundante. Os centros comerciais oferecem-nos um sem número de opções onde gastar o nosso dinheiro, e parece ser isso que define o nosso conceito de qualidade de vida. As viagens de avião de baixo custo fazem parecer que estamos mesmo a viver numa aldeia global… Ao mesmo tempo, com a internet e os “gadgets” electrónicos, queremos estar sempre perto de tudo. Enquanto isso esquecemos a importância de algumas necessidades básicas, como a alimentação. Não sabemos, ou não queremos saber o que se esconde por detrás das prateleiras dos supermercados. Mas devíamos!

A agricultura moderna divorciou-se completamente da natureza e já é um dos maiores consumidores de energia e água, bem como causadora de poluição. A agricultura intensiva destrói a biodiversidade e contamina a terra com pesticidas e fertilizantes artificiais. A isso vem somar-se a contaminação biológica e outras ameaças da introdução de organismos geneticamente modificados.

As regras do mercado livre globalizado aplicadas ao sector estão a destruir o modo de subsistência de milhões de pessoas e comunidades ao redor do mundo. E o resultado final disso também é péssimo para nós consumidores. Os alimentos estão repletos de resíduos químicos que se acumulam no nosso corpo com potenciais efeitos graves para a saúde.

Que decisões individuais ou colectivas podemos tomar para mudar este rumo? Este ciclo de cinema pretende lançar algumas ideias.

24 de Maio

* Filme “Quem alimenta o mundo?” (duração 93 minutos)
* Prova de produtos da Quinta de Segade.

31 de Maio

* Filme “o futuro dos alimentos” (duração 89 minutos)
* Prova de produtos da Naturocoop.
* Debate sobre agricultura biológica.

7 de Junho

* Filme “Carne, uma verdade mais que inconveniente” (duração 74 minutos)
* Prova de produtos da Casa da Horta.
* Debate sobre alimentação vegetariana.

14 de Junho

* Filme “TranXgenia – A História da Lagarta e do Milho” (duração 37 minutos)
* Prova de produtos do Projecto Raízes.
* Apresentação da Plataforma Transgénicos Fora e debate sobre organismos geneticamente modificados.

As sessões terão lugar sempre às 21h30 no auditório do Clube Literário do Porto – Rua Nova da Alfândega, 22.

Entrada livre. Mais informações em www.campoaberto.pt/cicloalimentacao

Organização:
Movimento Pró-Informação para a Cidadania e Ambiente,
Campo Aberto,
Plataforma Transgénicos Fora

Apoios: Clube Literário do Porto,
Quinta de Segade,
Casa da Horta,
Naturocoop,


http://www.campoaberto.pt/cicloalimentacao/