Thursday, November 29, 2007

Conversas da Terra – da ecologia do ser ao ser da ecologia 25 Nov 2007, UBP - RESUMO


No dia 25 de Novembro de 2007 decorreu na União Budista do Porto – um centro que se tem destacado por um exemplar e dinâmico trabalho em prol do desenvolvimento pessoal e espiritual dos seres, a oficina Conversas da Terra – da ecologia do ser ao ser da ecologia. Nela participaram cerca de uma dezena de pessoas, de diferentes faixas etárias, e esta decorreu de uma forma muito descontraída e participada. Foram abordados diversos temas, sobretudo discutidos diversos conceitos essenciais para compreender o “pensamento ecológico” no seio da nossa sociedade actual. Por contingências naturais de tempo não foi possível abordar em profundidade diversos aspectos de ordem mais concreta relacionados com o nosso estilo de vida e inter elação ecológica entre a espécie humana, todos nós, e a Mãe Natureza. Ainda assim foram discutidos com algum detalhe alguns dos principais problemas que se prendem com a crise ecológica que vivemos e da discussão surgiram algumas possibilidades e perspectivas de actuação, com iniciativas de mudança pessoal e, por inerência, colectivas.

Para já, mais imediatamente, ficou agendada (ainda sujeito a confirmação final) uma Oficina de Eco-Natal e/ou Natal Alternativo, onde irão ser construídas prendas de Natal fabricadas pelos próprios participantes e utilizando matérias reutilizados, assim como serão abordadas outras possibilidades de prendas sem o carácter consumista e trivial que possuem tantas vezes nesta época. Sobre este tema sugere-se vivamente uma visita ao original site do GAIA relativo ao tema em:

http://www.gaia.org.pt/econatal/

Em suma, Conversas da Terra – da ecologia do ser ao ser da ecologia uma oficina a repetir mais vezes, eventualmente em outros locais também. Sugestões e propostas são sem dúvida muito bem vindas; O)


Monday, November 19, 2007

Conversas da Terra - da ecologia do Ser ao ser da Ecologia



Conversas da Terra

da ecologia do Ser ao ser da Ecologia

Dia 25 de Novembro, União Budista Portuguesa – Porto, às 15h00

Local: Rua da Restauração, 463, 2.º

Inscrições: ubporto@gmail.com
Contribuição livre


Conversas da Terra oficina prática

da ecologia do Ser ao ser da Ecologia

reflexões para uma maior aproximação do ser humano, pós industrial, à Mãe Natureza e à Natureza de e em si


Esta oficina será composta, essencialmente, de uma primeira parte introdutória onde irão ser discutidos alguns dos conceitos mais relevantes e importantes para uma compreensão ecológico-social da nossa sociedade, assim como da realidade da qual todos fazemos parte. P.ex. a Ecologia, o Ecologismo, Biocentrismo Vs Antropocentrismo, Ecologia Profunda, Globalização, etc.


A segunda parte será direccionada para a reflexão, ancorada em aspectos práticos, sobre os estilos de vida modernos e a forma como se repercutem e relacionam com a Natureza e a ecologia dos habitats sociais e naturais (ou o que resta deles) onde vivemos.


Mais concretamente, serão realizadas dinâmicas diversas (os 5 elementos e os mil e um comportamentos de nós) que irão funcionar, também, como exercício prático avaliativo do carácter dos comportamentos habituais dos participantes, e a sua análise relativamente ao impacto ecológico dos mesmos. Os exercícios funcionarão portanto, em certa medida, como um diagnóstico dos estilos de vida que desenvolvemos e a forma como determinam a nossa relação com o meio ambiente e a Mãe Natureza.


E a terceira parte será de debate aberto onde serão discutidas formas de intervenção social individuais e em grupo tendentes ao desenvolvimento de uma maior consciência ecológica comum, assim como a um maior respeito e carinho por todos os seres e formas de vida.

Dessa discussão pretende-se o surgimento de propostas concretas de potencial mudança quer ao nível individual de cada participante, quer ao nível do potencial desenvolvimento de projectos colectivos ou simplesmente actividades de educação ambiental e mudança para estilos de vida mais coerentes com um respeito pela Terra e pelas outras espécies e seres.

Propostas preliminares de projectos:

The Change – A mudança


http://gota-de-orvalho.blogspot.com/2007/11/conversas-da-terra.html



Dia Sem Compras - Sábado, 24 de Novembro


Precedendo a Oficina de Conversas da Terra a 25 de Novembro, é lançado o desafio de adesão ao Dia Sem Compras a 24 de Novembro, ou, por outras palavras: Sermos capazes de passar um dia sem consumir. Depois, a 25, na nossa oficina, iremos falar disso e muito mais.


No dia 24 de Novembro, Sábado, assinala-se, a nível mundial, o Dia Sem Compras. Mas o que é afinal o Dia Sem Compras? Quais são os seus propósitos? Não necessitamos de consumir para viver?


O Consumo é um dos fenómenos mais cruciais para compreender a nossa sociedade. Um dos aspectos mais centrais no Dia Sem Compras é o de suscitar a reflexão sobre o fenómeno do consumismo, que representa o consumo na sua forma mais exacerbada, alienadora e nefasta.


Já alguma vez pensaste na história dos produtos que utilizas? Quem o produziu? Em que condições? Com que benefícios? Com que impactos?


Provavelmente não.


Um dos principais propósitos do Dia Sem Compras é, precisamente, o de promover um consumo - ao contrário do que sucede na maior parte dos casos - reflectido, consciente, ecologicamente e socialmente ético.


A maior parte das grandes companhias, nomeadamente multinacionais, movidas quase exclusivamente pela febre do lucro, que mina a maior parte dos valores da nossa sociedade, e ao contrário da imagem que nos fazem passar em coloridos e alegres anúncios publicitários, são responsáveis pela destruição em grande escala de habitats naturais, pela exploração de seres humanos principalmente nos países mais pobres do nosso planeta e, sobretudo, pelo perpetuar de um modelo de produção e consumo insustentável (pelo seu extremamente elevado impacto ecológico).


Aquilo que é produzido é-o sobretudo para produzir lucro, sem grandes preocupações se o são de forma ambientalmente correcta, socialmente ética e economicamente justa. Infelizmente, numa grande parte dos casos, são precisamente o oposto. Para além de tudo o mais, será que precisamos de consumir tanto (e de forma tão inconsciente e desnecessária) para realmente satisfazermos as nossas necessidades verdadeiramente essenciais?


No meio de tudo isto, qual é o nosso papel? Que podemos fazer? Quem ou o quê queremos ser?

Meros consumidores apáticos participantes num modelo de consumo inconsciente e exacerbado ou cidadãos e indivíduos capazes de trazer pequenas grandes mudanças ao nosso mundo e sociedade? Começando nesse pequeno grande mundo que é o do nosso dia-a-dia, nas instituições de ensino e trabalho, em casa, na família, no nosso bairro, no nosso prédio, etc.

E o Dia Sem Compras é um primeiro desafio: por um dia pararmos para pensar e olhar para o consumismo, fenómeno peculiar da nossa sociedade. Um dia para pararmos para não consumir e reflectir no quanto consumimos de forma irreflectida e desnecessária no nosso dia-a-dia ...

mais informação em:

http://www.buynothingday.co.uk/
http://adbusters.org/metas/eco/bnd/



Facilitador da Oficina de Conversas da Terra - da ecologia do Ser ao ser da Ecologia

Pedro Jorge Pereira, activista eco-social, tem vindo a estar ligado a diversos projectos e a fazer parte de diversos movimentos e associações sobretudo de cariz ambientalista ou com projectos na área. (Liga Portuguesa de Profilaxia Social onde foi voluntário durante 18 meses, Quercus, Associação Animal, Frente de Luta anti – touradas, etc.)

Participou, juntamente com outros activistas, na criação do núcleo do Porto do Grupo de Acção e Intervenção Ambiental – GAIA. No GAIA esteve na organização de vários eventos e actividades como encontros, conferências e sessões de educação ambiental (Pic-nics vegetarianos, passeios pedagógicos, conferências em escolas e faculdades, sessões sobre Globalização, Eco-Aldeias, etc.), planeamento e organização de várias campanhas (Eco-Consumidor, Paz e Não Violência, etc,) e participação em diversas plataformas nacionais (Convergir) e internacionais (EYFA – European Youth Forest Action, Abolition 2000, etc.).

Em 2004 foi voluntário do Serviço de Voluntariado Europeu (através do Programa Juventude da União Europeia) em Permalot, um inovador projecto ecológico, nas montanhas da Morávia, perto de Olomouc, República Checa. Nesse projecto teve a oportunidade de desenvolver diversas actividades relacionadas com desenvolvimento sustentável em zonas rurais, nomeadamente: eco-turismo, reconversão de terrenos para agricultura orgânica, Permacultura, etc.

Na sequência desta experiência editou e publicou, através do Programa Capital Futuro do Programa Juventude, o livro “Be the change you want to see”, com um forte carácter pedagógico, destinado à educação ambiental e sensibilização para a importância do voluntariado no mundo actual.

http://thechange2004.blogspot.com/

É formador certificado, tendo vindo a enveredar, primordialmente, pela área da educação ambiental e criação de estilos de vida ecológicos como principais áreas de vocação e interesse, juntamente com a área da alimentação vegetariana e nutrição integral.

É responsável pela publicação de diversos artigos e textos relacionados com diferentes assuntos, nomeadamente: Ecologismo, Ecologia Social, Direitos humanos (1ºde Janeiro, Indymedia, Eco-Portal, Boletim Erva Daninha, etc.) assim como pela redacção de diversos comunicados de imprensa.

Pedro, acima de tudo, busca em si, e em todos os seres que contacta, a mudança que deseja ver no mundo, uma mudança no sentido da espécie humana estar cada vez mais próxima da Mãe Natureza e, por inerência, mais perto de si mesma. Pois acredita que são, precisamente, o tecnocentrismo e a obsessão pelo lucro individualista, entre outras, algumas das principais razões para a grave crise ecológica e social que vivemos nos nossos dias. Uma crise que só poderá ser ultrapassada se o ser humano for capaz de compreender, amar e viver com a Mãe Natureza e consigo mesmo.


Friday, November 16, 2007

Cargotopia 2007


Cargotopia 2007


O projecto “Be the Change” esteve representado no festival Cargotopia que se realizou no Cais do Gaia. Representado por Pedro Jorge Pereira que teve o privilégio de num Fórum organizado pelos dinamizadores do festival (e que juntou várias organizações não-governamentais, nomeadamente projectos ligados ao Comércio Justo, à intervenção artística com populações desfavorecidas e ambiente) falar um pouco sobre o projecto e sobre o movimento ecológico em Portugal, assim como sobre questões ambientais em geral. Um festival que para o ano promete trazer ainda mais cor e movimento ao Cais de Gaia e mostrar que a convergência de esforços e iniciativas não só é possível como faz todo o sentido, sendo a arte uma “ponte de encontro” privilegiada.


Url do Festival:

http://cargotopia.forum5.com/

Tuesday, November 06, 2007

O Papalagui

O Papalagui


O Papalagui é um dos livros mais “essenciais” que já tive a oportunidade de conhecer e descobrir.

Nas reflexões do chefe Tuiavii um dos mais cativantes testemunhos desse(s) profundo(s) paradoxo(s) que constitui a nossa cultura tecnocêntrica “ocidental”, profundamente “afastada” da Natureza e da mais primordial simplicidade da Vida e do viver.

Um livro absolutamente “obrigatório” e extremamente cativante que se lê (ao contrário talvez do que se deve) num ténue sopro de tempo.

E a propósito de tempo ...


Pretendem alguns Papalaguis que nunca têm tempo. Correm desvairados de um lado para o outro como se estivessem possuídos pelo aitu* e causam terror e desgraça onde quer que cheguem, só porque perderam o seu tempo. Este estado de frenesi e demência é uma coisa terrível, uma doença que nenhum homem de medicina pode curar, doença que atinge muitos homens e que os leva à desgraça.”


O Papalagui

Autor: Tuiavii,

Editora: Antígona

Idioma: Português

Páginas: 74

Titulo Original: Der Papalagi

Tradutor: Liiza Neto Jorge


http://www.citador.pt/biblio.php?op=21&book_id=472



Observações:


Papalagui - assim os samoanos chamam aos brancos, e assim Erich Sheurmann chamou à crítica da civilização ocidental posta na boca do chefe samoano Tuiavii que registou um êxito editorial estrondoso. Seduzindo milhares de leitores, tornou-se um autêntico best-seller e livro de cabeceira de certa cena dita alternativa, sobretudo no seu país de origem. Publicado em 1920, na Alemanha, o livro encontrou os primeiros leitores num país ainda ávido de matar saudades do arquipélago de Samoa, cuja parte ocidental tinha sido uma colónia alemã antes de ficar sob a tutela da Nova Zelândia nesse mesmo ano de 1920, até adquirir a independência de 1962.

O Papalagui não pode ser visto isoladamente. Insere-se numa tradição literária secular e numa mitologia de vigor excepcional : o sonho do paraíso terrestre. Este sonho fixa-se no século XVII nos mares do Sul que começam então a ser explorados sistematicamente. Tudo ali se procura, naquelas regiões longínquas do Pacífico: um clima feliz, uma natureza generosa onde sobrevive o 'bom selvagem' de Rousseau, inocente e nu, libertado das pressões do dia-a-dia e sem necessidade de trabalhar.


Thursday, October 11, 2007

Sociedade do Automóvel


Um inspirador filme documental chegado do Brasil. Uma análise extremamente interessante e incisiva sobre os paradigmas desse aspecto tão crucial na organização e funcionamento das sociedades que é a deslocação e transporte, sendo que o despotismo automobilizado continua a ser um fenómeno tão entranhado e quase intrínseco naquilo que define a nossa sociedade, que nos parece tão abstracto e utópico conseguirmos imaginar, criar e viver cidades livres dessa opressão. Opressão atmosférica, de circulação, ambiental e, talvez antes de tudo o mais, cultural ... é talvez esse um dos aspectos mais interessantes exemplarmente dissertados no filme ...



http://paginas.terra.com.br/arte/sociedadedoautomovel/down.html




e mais um extracto do “Be the Change” que, na minha opinião, dificilmente poderia estar mais a propósito

Cresci e (em parte) vivi no Porto, que infelizmente é uma excelente cidade para poder verificar as proporções que o fenómeno da ideologia automóvel adquire. Mesmo ao nível da forma como as principais questões ecológicas vão sendo abordadas, creio que nunca houve uma verdadeira discussão sobre a essência deste fenómeno que, para além de todos os aspectos mais práticos e imediatos, se situa ao próprio nível cultural, ou seja, naquilo que se prende com as próprias mentalidades. Parece algo banal andar de automóvel, praticamente perdemos a capacidade de tentar imaginar como poderia ser a nossa vida quotidiana se não tivéssemos automóveis, e essa á talvez uma das mais perniciosas dependências na qual todo o nosso estilo de vida se continua a basear. Se calhar não nos apercebemos da violência que representa ter os automóveis a circular pelo meio de nós porque já nos habituámos, mas, se parássemos por breves instantes que fossem para reflectir, se calhar ficaríamos algo surpreendidos … a forma como os automóveis interferem, e prejudicam, a nossa vida quotidiana é inestimável. Sobretudo por causa deles, as cidades são como autênticas selvas urbanas (na acepção mais negativa que a expressão pode adquirir). Desde logo todo o aspecto psicológico da questão. Os automóveis são máquinas agressivas, que nos amedrontam e remetem para espaços laterais, quando as cidades deveriam ser sobretudo espaços de socialização e interacção interpessoal. Com os carros temos de nos remeter para as bermas, temos de nos remeter ao silêncio ou procurar sítios mais recatados se queremos conversar, tal é o ruído produzido pelos automóveis. Não menos importante (bem pelo contrário) é o aspecto da segurança. Sobretudo por causa dos automóveis, os nosso gestos mais singelos e simples mobilidade, tornam-se num permanente risco à nossa própria integridade física e muitas vezes à nossa própria vida. Uma simples desatenção ou menor pequeno incidente, com tais infernais máquinas a circular, pode-se tornar numa enorme tragédia. É uma prepotência enorme sobre as pessoas, é um factor crucial de deterioração das condições de bem estar humano e sociabilidade. Por vezes paro por breves instantes a contemplar algumas fotografias antigas, de épocas bem anteriores à da “automobilização” da sociedade, e observo como me parecem quase idílicas. As cidades limpas, com as ruas inundadas de pessoas, tranquilamente parando para conversar. Crianças e animais correndo livremente, canteiros e jardins onde agora existe somente asfalto e umas máquinas de lata a passar a velocidades alucinadas. Enfim, vejo aquilo que uma cidade deveria verdadeiramente ser: pessoas, contacto, encontro, espaço livre, espaço humano, espaço para a Natureza despontar aqui e além. Já não nos conseguimos aperceber da dimensão das alterações profundas que a vulgarização do transporte automóvel introduziu nas nossas vidas. Supostamente trouxe progresso, redução das distâncias geográficas, mas a questão que se coloca é: e se não tivéssemos mergulhado numa época do petróleo? Não será que se teria investido em soluções bem mais ecológicas e desprovidas de tão nefastos impactos? Basta pensar no comboio por exemplo … E, por outro lado, esse eventual progresso … será que os supostos benefícios que lhe estão associados justificam todos os problemas e impactos que lhe são implícitos? Essas problemas constituem uma lista quase interminável e vão desde o desenvolvimento de um estilo de vida sedentário - com todas as suas consequências em termos de saúde - ao excesso de poluição e ampliação exponencial da incidência de doenças do foro respiratório, passando pelos já referidos aspectos da sinistralidade, dependência energética face a um recurso não renovável e extremamente poluente como é o petróleo, não esquecendo o stress, que é talvez um dos factores mais relevantes em termos de deterioração das condições de vida nos espaços urbanos.

Pessoalmente acredito que eventualmente deslocarmos-nos mais rápido não compensa o facto de termos mais asma, bronquite e outras doenças pulmonares. Não compensa o biocídio de animais selvagens entre outros impactos ecológicos brutais que a construção de estradas implica. Não compensa todas as guerras e políticas militarista fratricidas que são despoletadas pela posse do petróleo … não compensa os terríveis desastres ecológicos causados por petroleiros a habitats ecológicos tão sensíveis como os marinhos (e é brutal a forma como nos esquecemos tão facilmente deles ou de forma tão vertiginosa deixam de estar na “ordem do dia” mediática). Não compensa o aquecimento global e a forma como está a destruir por completo toda a dinâmica natural e frágil equilíbrio ecológico do nosso planeta. Não compensa … sobretudo porque a dependência do petróleo, particularmente o interesse que existe por parte de determinados grupos financeiros em nos manter dependentes do petróleo (é daí que advêm os seus lucros milionários, da mesma forma que há poderosos grupos financeiros a lucrar com as nossas doenças) continua a estar associada a um estilo de vida e a determinados hábitos que nos parecem sempre inalteráveis e insusceptíveis de mudança. Pois bem, a mudança é, na verdade, uma das características mais primordiais de tudo aquilo que nos define como seres vivos, e não mudarmos, estagnarmos, é justamente um dos maiores prejuízos que podemos causar a nós próprios. A estagnação é contra a ordem natural da vida e do ser humano. Nesta caso em particular adquire contornos de particular gravidade pois não mudarmos o nosso estilo de vida, não modificarmos os próprios paradigmas culturais associados à frenética utilização e dependência em relação aos transportes poluentes, significa, de uma forma cada vez mais irreversível, o colapso ambiental, humano e económico da nossa própria sociedade. Parecem somente palavras, mas o que está em causa é a nossa própria sobrevivência … se calhar só iremos adquirir consciência da gravidade da situação quando ela nos afectar de forma extrema, quando o próprio estilo de vida que a ela conduziu sofrerá acentuadas modificações (ou seja, se não mudarmos “a bem” vamos necessariamente ter que mudar “a mal”).”

in Pereira, Pedro Jorge; “Be the Change you Want to See - uma outra perspectiva do mundo através do voluntariado”, (Porto, Planeta Terra: GAIA, 2006) p.33

Monday, September 10, 2007

Sobre os OGMs ou nem por isso


Sobre os OGMs ou nem por isso

por Pedro Jorge Pereira, ecologista social

correcção ortográfica Cristina Gomes


Para dizer ou escrever seja o que for sobre Transgénicos sinto que “devo” quase obrigatoriamente começar por referir a minha considerável ausência de conhecimentos técnicos ou científicos sobre a questão ou sobre os diversos aspectos a ela inerentes.

A “questão” dos transgénicos é uma questão que para além de todas as nuances ao nível da reflexão ética, nomeadamente sobre os paradigmas de relacionamento ser humano-Natureza, é indubitavelmente uma questão que facilmente se reveste de aspectos específicos cuja discussão se centra, de facto, essencialmente no âmbito restrito da abordagem científica. No entanto, e para ser sincero, não creio que seja necessário ser cientista ou técnico especializado para reflectir ou até para ter uma opinião bem fundamentada sobre ser favorável ou não à utilização de organismos geneticamente modificados. Na verdade, a ausência de conhecimentos técnicos aprofundados é um dos principais pretextos utilizados pelo poder político e pelo poder de uma grande parte das poderosas companhias multinacionais para conseguir afastar o cidadão comum das discussões sobre as grandes questões da nossa actualidade e, mais importante ainda, dos processos de tomada de decisão que se efectuam, numa escala cada vez mais preocupante, a um nível muito afastado dos próprios processos de decisão democráticos.

Então o que dizer sobre os transgénicos do ponto de vista não técnico?

Um dos argumentos normalmente utilizados pelos lobbies pró transgénicos é o de que, na realidade, os transgénicos nem representam nada de propriamente radicalmente diferente, dado que já há muitos anos, séculos até, o Homem procede a cruzamentos genéticos entre espécies, nomeadamente alguns dos alimentos que actualmente são parte integrante da nossa dieta correspondem a espécies que advêm do cruzamento de outras espécies. Ora, na verdade, esse cruzamento não se processa ao nível do “núcleo” das células desses alimentos, mas é um cruzamento onde o dito nível de manipulação não atinge sequer uma escala laboratorial. Por isso é um cruzamento que, diria, se aproxima de um nível algo “natural”. São “apuramentos” efectuados, essencialmente, pelos próprios agricultores através de processos algo simples e não em laboratórios incentivados, acima de tudo, pela aparente vantagem comercial dos OGMs.

A introdução dos organismos geneticamente modificados na nossa alimentação e Natureza possui o potencial de originar modificações possivelmente sem precedentes na própria história da humanidade.

O funcionamento normal dos ecossistemas implica um mais ou menos complexo conjunto de elos e relações cuja compreensão é, por definição, algo limitada. Qualquer alteração nos frágeis elos que compõem a cadeia de todo o ecossistema pode dar origem a inúmeros impactos com um grau de previsibilidade muito limitado em todos os outros elementos dessa mesma cadeia.

Ora os OGMs, pela escala sem precedentes de manipulação dos próprios genes dos alimentos, têm a susceptibilidade de originar impactos de enorme dimensão, sem que se saiba exactamente que tipo impactos, em toda a cadeia natural e ecossistemas. Ainda para mais, quando é cada vez mais evidente que não passa de um mito a possibilidade de delimitar em termos práticos a zona de abrangência de um campo OGMs à própria área desse terreno e pouco mais que áreas adjacentes. Na realidade, existem já demasiados registos de casos de contaminação cruzada a distâncias preocupantes, nomeadamente de alguns kms.

Na verdade, creio que mais do que qualquer discussão técnica, o que está em causa são os próprios princípios inerentes à produção de transgénicos, nomeadamente essa fatal e desastrosa “mania” do bicho Homem de manipular a Natureza à medida dos “supostos” interesses ou, diria antes, caprichos, mais do que existir qualquer esforço por parte do Homem de se adaptar à própria Natureza que, de forma tão incansável, o alimenta, nutre, aquece e inspira.

Neste caso, essa manipulação poderá (e infelizmente tudo indica que sim) causar impactos que se irão voltar de forma imprevisível e altamente perigosa contra a própria espécie humana. Afinal de contas, ao consumirmos produtos transgénicos, estamos a ser cobaias de uma experiência que, na prática, ninguém sabe muito bem que efeitos poderá produzir. E essa é um dos aspectos essenciais inerentes a toda a questão: o princípio da precaução, que ,de forma tão deficiente, tem sido defendido pelos poderes políticos face às mais que legítimas preocupações dos consumidores.

Pessoalmente não tenho muito a reflectir sobre a questão dos transgénicos ... parece-me que é “apenas” mais dos mesmos mecanismos de proliferação do poder económico das multinacionais sobre o respeito pela Natureza e pelo desenvolvimento sustentável da Humanidade, e mais dos mesmos mecanismos de dominação da lógica de mercado sobre qualquer lógica de bem estar social igualitário e sobre os legítimos mecanismos de expressão democrática, especialmente considerando que os dados são inequívocos: a grande maioria da população, nomeadamente a Europeia, é contra a utilização e consumo de OGMs.

A forma como os OGMs têm vindo a ser introduzidos nos nossos alimentos e mercados (sendo particularmente obsceno no caso Europeu dado que essa introdução tem vindo a ser concretizada ao arrepio e contra a clara vontade da esmagadora maioria dos consumidores Europeus) não deixa grande margem para dúvidas (se as houvesse) de quem quer mandar (e o tem vindo a fazer com largo sucesso) nas decisões que são tomadas relativamente à sociedade de todos nós: o poder das grandes companhias multinacionais está longe de ser percepcionado pela maior parte da população e, na grande maioria, estamos longe de compreender o perigo que essa espécie de neo-fascismo de mercado representa para todos nós.

Os interesses económicos (leia-se lucro) de um conjunto restrito de corporações, neste caso do importante sector agro-industrial, valem mais para os ditos decisores do que a protecção e precaução na defesa do meio ambiente, do que a própria saúde dos consumidores. Sim, porque se é óbvio que somos de facto aquilo que comemos, a realidade é que não temos a mínima ideia do que nos podemos estar a tornar se ingerimos alimentos relativamente aos quais poucas ou nenhumas seguranças existem. Bem pelo contrário.

Vem toda esta dissertação a propósito de quê?

No passado dia 17 de Agosto, um grupo de activistas do designado Movimento “Verde Eufémia” encetou uma acção de contornos poucos ou nada comuns em Portugal, desencadeando uma histérica onda de indignação e condenação por parte do poder político, dos media, e do imenso coro de vozes provenientes dos pensadores do “status quo” da nossa sacra ordem social, que, curiosamente, até esse acontecimento pouco ou nada haviam feito, dito ou sequer pensado sobre a questão dos OGMs.

A acção consistiu na destruição de parte da uma plantação de milho transgénico. A imagem que passou foi a de um “pobre” agricultor subitamente arruínado face à “fúria” de um bando de extremistas fanáticos e violentos. Pessoalmente tenho algumas dúvidas sobre a natureza de uma tal acção, nomeadamente relativamente à sua eficácia, num contexto em que o centro dos debates das grandes questões da nossa actualidade é, senão mesmo completamente estéril, pelo menos superficial. Nessa medida creio que as imagens captadas acabaram um pouco por provir a essa infeliz fatalidade da nossa actualidade: a sociedade mediática do espectáculo e do boçal entretenimento.

Subitamente a destruição de um parcela de um campo de milho transgénico era mais grave e condenável do que, desde logo, a plantação de milho transgénico independentemente das graves ameaças que esse pudesse ou não constituir às plantações não transgénicas situadas nas imediações. Do que a deficiente protecção dos direitos dos consumidores considerando a não apropriada catologação e discriminação nas embalagens dos produtos contendo OGMs.

Obviamente que a “violência” (mesmo considerando todas a subjectividade de aplicar ou não tal termo em função de variados contextos) é sempre algo condenável ... mas é condenável o escravo que queima a roça do “senhor de engenho” que o escraviza? É condenável a violência da mulher que se volta contra o marido agressor?

Foi uma acção legal? Sem dúvida que na óptica da “Lei” não foi, mas uma das principais bases da “lei” é a moral ... e infelizmente não faltam casos de leis imorais. Ou que pelo menos revelam um acentuado desfasamento temporal face à evolução das mentalidades. A abolição no tempo em que vigorou era legal, ao invés de qualquer acção de libertação de escravos, tida como ilegal, violenta, e lesiva da ordem e moral então vigente. A mudança social, nomeadamene a mudança que visa leis injustas e imorais, implica necessariamente, em muitos casos, a desobediência civil motivada pela não compactuação com leis injustas e lesivas do bem estar social e ambiental das sociedades. Pessoalmente, acredito piamente que qualquer lei que permita a introdução de OGMs na nossa alimentação, nos nossos campos agrícolas, na nossa Natureza e nos nossos mercados, ainda para mais com a agravante de haver uma gritante ausência da informação relativa a esse facto, é, para mim, altamente imoral. Será que isso dá qualquer legitimidade a um grupo de cidadãos para actuar contra essas leis imorais, nomeadamente através da destruição de propriedade privada? Não sei, pessoalmente creio que é muito relativo e pode, e deve, ser discutível. Pessoalmente creio que o valor patrimonial de um bem que é de todos nós, a nossa Natureza, é claramente mais elevada do que o valor de uma propriedade privada e, particularmente, do que o lucro de quem quer lucrar à custa da proliferação de OGMs.

A imagem do “pobre agricultor” arruínado foi, na minha opinião, uma tremenda falácia. A imagem que passou foi a de um pobre agricultor vs bando de extremistas eco-fundamentalistas quando, essencialmente, a batalha dos OGMs se trava entre um restrito grupo de consumidores, ecologistas e agricultores tradicionais contra uma complexa cadeia de jogos e interesses de poderosos grupos agro-industriais e lacaios a quem o seu poder de uma forma ou de outra provém, situem-se esses importantes aliados no poder político ou na poderosa indústria dos media corporativos.

Pessoalmente a mais considerável crítica que teço ao Movimento Verde Eufémia, talvez por ser um movimento, ao que sei, bastante recente, é a de talvez devido à ausência de alguma ponderação estratégica, ter contribuído um pouco para o aproveitamento e insidiosa vitimização que foi retirada da situação. As imagens aparentemente violentas serviram na perfeição para alimentar uma indústria e sociedade algo sedenta de espectáculo. Por outro lado a luta anti-transgénicos, só para citar o exemplo mais directamente relacionado, decorre há diversos anos pelas mais variadas e totalmente não-violentas formas sem que, até ao momento, pouca ou nenhuma atenção e consideração relevante houvesse merecido por parte da generalidade dos “media institucionalizados”, não obstante o tão cruciais e relevantes que são as questões que o debate sobre os OGMs possa suscitar.

Foi a forma correcta de agir e actuar? Não sei, sei, infelizmente, que todas as outras formas foram usadas e tentadas pela maioria do movimento de oposição à proliferação OGMs, sem que tivessem tido, até ao momento, considerável impacto ou conseguido vitórias consideráveis para além de terem contribuído positivamente para haver uma maior consciencialização sobre o assunto.

No essencial, contudo, creio que o que mais incomodou ao próprio poder político, foi uma característica peculiar desta acção e que confronta esse mesmo poder com algo em relação ao qual este tem vindo a manifestar uma enorme ausência: acção. É extraordinária a forma como paulatinamente, não obstante tão significativa rejeição da sociedade face a estes, os OGMs têm vindo a ser produzidos e gradualmente comercializados em Portugal e um pouco por toda a Europa. Num contexto de inércia, conivência e até apoio do poder político aos intentos das indústrias agro-alimentares parece-me lógico que, esgotados e esvaziados por esse mesmo poder de validade as diversas iniciativas e campanhas não-violentas encetadas pelos defensores de uma cultura e alimentação natural e não OGMs, as formas de acção mais directas, à imagem de resto do que já é comum em países onde a consciência e discussão da questão OGMs se encontra num nível bem mais avançado, passem a constituir uma forma de acção mais comum.

Existe um enorme grau de subjectividade inerente à discussão da legitimidade desse género de acções, havendo em cada acção em particular um conjunto de condicionantes e particularidades que lhe podem conferir, ou não, maior ou menor legitimidade. Subjectividade que, de resto, em nada se coaduna com a forma superficial e leviana de encarar uma acção que não pode de forma alguma ser desenquadrada de um contexto demasiado relevante para permitir a sua discussão de forma apropriada.

O próprio Estado tem vindo a destruir, e a permitir a destruição, legal de preciosos habitats naturais no nosso país, sem que, numa grande parte dos casos, se assista a qualquer esforço de impedimento ou punição face a tais crimes que persistem sendo cometidos. Os Planos Directores Municipais, entre outros planos de ordenamento territorial, são constantemente cortados e retalhados em função dos interesses especulativos imobiliários. As poucas áreas protegidas que subsistem continuam a sofrer com a construção de empreendimentos megalómanos financiados e apadrinhados por diversos ministérios. O Ministério da Agricultura permite e incentiva que OGMs sejam plantados e libertados nos Habitats Naturais. Tudo isto legalmente ... será que o valor de uma grande parte das leis vigentes é superior ao valor de realmente podermos lutar e exigir um Mundo melhor?

Quem são os vândalos, os jovens de Silves ou as buldozers e catterpillers dos grandes empreendedores imobiliários e bancos que os financiam?

Quem são os vândalos, os jovens de Silves ou as empresas químicas que continuam e libertar nos nossos habitats perigosos produtos químicos?

Quem são os vândalos, os jovens de Silves ou as empresas de celulose que continuam a protagonizar a infestação das nossas florestas com eucaliptos?

Onde reside a inconsciência? Do lado dos que protagonizam a destruição de campos OGMs ou do lado de ministérios que permitem a sua plantação sem qualquer garantia de segurança relativamente à salvaguarda de situações de contaminação (praticamente inevitável)?

Onde reside o vandalismo, na destruição do campo OGMs de Silves ou na destruição que está prestes a acontecer do último rio selvagem português, o Sabor, por intermédio da estatal EDP e outras mega instituições do betão e dos milhões com o alto patrocínio, apoio e incentivo do antigo Ministro do Ambiente, José Socrates?

O que têm conseguido os movimentos ambientalistas com acções legais e politicamente correctas para fazer face às ferozes e violentas investidas do betão e da ganância corportativa? Que protestos se têm revelado capazes de impedir seja o que for para evitar aquilo que tem vindo a suceder de forma cada vez mais impiedosa: a destruição, exploração e desprezo pelo Património Natural do nossos país? Quem são os extremistas? Os destruidores? Os imbecis?

Ficam as interrogações.

Fica ainda uma nota de reflexão relativamente à perseguição absurda que tem sido alvo uma das mais corajosas ONGAs portuguesas: o Grupo de Acção e Intervenção Ambiental (GAIA).

O GAIA preconiza, em certas situações, o recurso à acção directa não-violenta como forma de protecção da Natureza e forma de intervenção e protesto político. É um movimento inspirado na linha de actuação de Mahatma Gandhi e outros pacifistas comtemporâneos.

O GAIA é um colectivo não hierárquico e onde a opinião de todos os membros é válida e útil. Nessa medida a acção de Silves, ainda que possa ter contado com a participação de alguns elementos do GAIA, decorreu sem o conhecimento sequer de uma parte significativa dos activisas do GAIA. Decorreu numa órbitra completamente externa às decisões colectivas do grupo ou no quadro das suas acções e campanhas. Nessa medida, creio que são ridículas as responsabilidades que têm sido imputadas ao GAIA quando é claro que a acção foi planeada, executada e assumida pelo Movimento Verde Eufémia.

Moralmente o GAIA apoia determinados tipos de acções directas, como já referi, mas não existe ainda sequer nenhum consenso no seio da própria organização sobre o apoio claro e inequívoco à acção de Silves.

Dessa forma é absurda as atitudes de perseguição e condenação que o GAIA tem sofrido por uma acção que efectivamente não apoiou, na qual não tomou parte, e da qual pouco ou nada uma grande parte dos activistas sabia.

Mas é assim, a praça pública exige os seus bodes espiatórios e a sede de justiça popular (populista) remonta já aos tempos que os pelourinhos constituiam um dos principais motivos de entretenimento do povinho das aldeolas. Talvez não se tenha evoluido assim tanto desde esses tempos que para muitos são tempos ainda saudosos.

E sobre transgénicos, e outras divações, por agora tenho dito.

Não obstante a minha capacidade algo limitada de me alongar mais profundamente sobre o cerne propriamente dito das questões relativas aos OGMs existe alguma informação que, na minha opinião, é extremamente elucidativa e didáctica e que permite reflectir de forma mais fundamentada sobre a questão.


Nessa medida, creio que de leitura obrigatória é o livro da Professora Margarida Silva, uma das maiores especialistas nacionais e mesmo internacionais sobre o tema dos OGMs e biologia molecular creio, cujos dados indicativos, infelizmente, não disponho neste preciso momento.


Documentos particularmente didácticos, sobretudo para quem, como eu, pouco compreende as nuances técnicas da questão OGMs são:



FUTURE OF FOOD:

http://video.google.com/videoplay?docid=5888040483237356977


GMOs PANACEA OR POISON: http://video.google.com/videoplay?docid=5207412505897358694


Life running out of control:

http://video.google.com/videoplay?docid=1876901729566469042


Para mais informações sobre os transgénicos, visite ainda os seguintes links:


desde logo o site oficial da Plataforma Transgénicos Fora do Prato

http://www.stopogm.net/


http://www.esquerda.net/mp3/entrevista_trans.mp3

(entrevista a Gualter Baptista, um dos mais activos activistas portugueses anti-OGm e que elucida de forma muito bem estruturada muitas das questões mais cruciais sobre os OGM)



http://pimentanegra.blogspot.com/2007/09/propsito-da-no-violncia-e-das-lutas.html


(que permite reflectir de forma mais “aprofundada” sobre os contornos da acção de Silves)



http://groups.yahoo.com/group/InfoNature-Portugues/message/815

http://groups.yahoo.com/group/InfoNature-Portugues/message/808

http://groups.yahoo.com/group/InfoNature-Portugues/message/806

(dos recursos web do excelente projecto InfoNature)



http://eufemia.ecobytes.net/

(blog do Movimento ainda não formal Verde Eufémia)



e ainda o site:

http://ingenea.pegada.net


fica ainda um artigo notável escrito por um dos mais eminentes e “lúcidos” intelectuais portugueses, Boaventura de Sousa Santos, sobre o tema.


O Descodificador

Publicado na Visão em 30 de Agosto de 2007

Fonte: http://www.ces.uc.pt/opiniao/bss/190pt.php


Frequentemente, um pequeno acontecimento revela aspectos da vida colectiva que, apesar de importantes, permanecem submersos na consciência dos cidadãos e na opinião pública. A destruição de um campo de milho transgénico no Algarve é um desses acontecimentos. Através dele revelaram-se entre outras, as questões da legitimidade das lutas sociais, da propriedade privada, da influência dos interesses económicos nas legislações nacionais, do papel do Estado nos conflitos sociais, da construção social da perigosidade de certos grupos sociais e da possível nocividade dos organismos geneticamente modificados (OGMs) para a saúde pública.

As lutas sociais são frequentemente compostas de acções legais e ilegais. Os actos fundacionais das democracias modernas foram, quase sem excepção, ilegais: greves e manifestações proibidas, lutas clandestinas, insurreições militares (como o 25 de Abril), actos que hoje consideramos terroristas (como os do "terrorista" Nelson Mandela). Em certos contextos, os activistas podem escolher entre meios legais e ilegais (como no caso vertente), noutros, não têm outra opção que não a da ilegalidade.

A propriedade privada é um alvo difícil porque as concepções sociais a seu respeito são muito contraditórias e evoluem historicamente. Os primeiros impostos sobre o capital industrial não foram considerados pelos empresários como uma violação do direito de propriedade? Há violações da propriedade privada que não causam qualquer comoção social apesar de serem graves, por exemplo, os salários em atraso. No caso dos transgénicos, o tratamento do direito de propriedade apresenta contradições flagrantes. Enquanto, por um lado, a polinização cruzada faz com que culturas convencionais venham a ser contaminadas pelos OGMs, o que, sendo uma violação do direito de propriedade, não levanta nenhum clamor. Por outro lado, um agricultor canadiano, vítima de polinização cruzada, foi obrigado a pagar uma indemnização à Monsanto, empresa de sementes, por ter violado o direito de propriedade desta (a patente) ao usar sementes que tinham sido contaminadas contra a sua vontade.

Estas contradições decorrem do fortíssimo lobby das grandes empresas de sementes, cinco ou seis a nível mundial, na legislação e nas políticas nacionais. Só essa pressão explica: que Portugal - durante um tempo visto como refúgio da agricultura biológica e orgânica da Europa – seja hoje um dos seis países a aceitar os transgénicos; que a legislação portuguesa seja tão enviesada a favor dos OGMs que quase parece ter sido redigida pelos advogados das empresas; que o ministro da triste figura faça, de um campo de milho, um campo de batalha a exigir imediata ajuda humanitária; que os técnicos do Estado apaguem, como ciência, as press releases da Monsanto e escamoteiem a questão principal: se os OGMs fazem mal às borboletas e outros animais inferiores porque não accionar o princípio da precaução?

Este lobby encontra no caldo de cultura conservador da opinião pública o contexto ideal para estigmatizar a oposição aos seus interesses. E assim os activistas são transformados em "ecofascistas" ou "terroristas light".

PS: dedico esta coluna ao Eduardo Prado Coelho