Monday, October 30, 2006

Memórias de um rio vivo ...










Memórias de um rio vivo ...


Li um artigo sobre o rio Mondego. Esse mesmo rio que utilizei como exemplo para uma reflexão sobre os rios e os planos hidrológicos humanos que os têm vindo gradualmente a transformar em canais amorfos e sem vida, sem fulgor e poesia ... sem vida e esplendôr ... o rio Mondego, o maior nascido em Portugal, é um rio triste, muito triste ...


Perto do centro, onde saio todos dias do autocarro 16, verificámos os horários dos autocarros, que são escrupulosamente cumpridos, e constatámos que teríamos de esperar cerca de 16m pelo autocarro, pelo que decidimos ir a pé. Seguimos pelo percurso que começa a ser para mim rapidamente familiar e conhecido. Ao chegamos perto de casa, a Radka, um nome mais ou menos comum na R.Checa, falou-nos de um amigo que habita nuns “panelakis” na área. Contou-lhe que onde agora se estende uma longa avenida asfaltada antes corriam livres e sinuosas as águas do Morava. Agora o Morava assemelha-se em larga medida a um canal agrilhotinado por diques, um canal uniforme sem vigor e espontaneidade. As margens que havia visto antes são morros de terra erguidos pelo Homem. Esses diques fazem parte de uma espécie de sistema de controlo e manipulação de caudais. Suponho que seria necessário indagar pelo Morava na sua essência para se poder estimar de forma mais exacta o verdadeiro impacto de tal intervenção. Mas parece-me triste o Morava, castrado e ferido no seu orgulho. De resto não muito diferente do mesmo processo pelo qual passou o Mondego, e um plano hidrológico que quase lhe roubou toda a essência e vida. Aqui como lá, mais do que uma ideologia de comité central ou de mercado, o que é mais importante é a forma como os Homens olham para a Natureza. Não como um pássaro que deve voar livremente e preencher o nosso céu de poesia e liberdade, com o qual se aprende a conviver e respeitar, mas como um animal selvagem que se deve açaimar e domesticar como num luminoso mas triste espectáculo de circo qualquer.


in Pereira, Pedro Jorge; “Be the Change you Want to See - uma outra perspectiva do mundo através do voluntariado”, (Porto, Planeta Terra: GAIA, 2006) p. 70



Mondego entra na lista das 200 "zonas mortas"
Fertilizantes e pesticidas tiram a respiração às águas dos rios
http://jn.sapo.pt/2006/10/22/sociedade_e_vida/mondego_entra_lista_200_zonas_mortas.html
Eduarda Ferreira

Orio Mondego está incluído numa lista de zonas aquáticas em que falta o oxigénio e, por isso, são consideradas "zonas mortas", pelo menos durante parte significativa do ano. De 149 sítios com esta classificação em 2004, a lista organizada pelo Programa de Acção Global para a Protecção do Ambiente Marinho de Fontes Localizadas em Terra integra agora cerca de 200.

O Programa das Nações Unidas para o Ambiente (UNEP) actualiza de dois em dois anos o relatório de uma sua iniciativa que faz o diagnóstico dos meios aquáticos costeiros e marinhos. Na reunião desta última semana, em Pequim, saíu o consenso sobre a actualização dos sítios doentes, cuja lista definitiva só será divulgada em 2007. De qualquer modo, o rio Mondego foi já citado como um dos casos incluídos no último relatório.

Um pouco por todo o mundo estão identificados recursos hídricos que passaram a "zonas mortas". A asfixia dessas águas deve-se a lixo, a descargas de estações de tratamento, à construção de barragens, ao turismo, à indústria e transportes. A agricultura é fonte importante de poluição localizada em terra. Ao enviar para os rios fertilizantes (nomeadamente o nitrogénio e o fósforo) determina a eutrofização das águas, que se caracteriza pelo desenvolvimento descontrolado de algas consumidoras do oxigénio. Tal impede, por exemplo, que espécies piscícolas subsistam nesse meio. Os pontos negros deste mapa das Nações Unidas incluem desde zonas das Caraíbas a fiordes da Noruega, Mar Negro, Austrália, China e Japão. O Mediterrâneo é dos que concentram mais manchas de poluição. Por exemplo, a Leste do Algarve, são visíveis efeitos da actividade turística e da produção agrícola intensiva na Andaluzia, Espanha. Cerca de 80% da poluição do mar e estuários têm origem em terra.


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