Wednesday, March 30, 2011

Da sonolência do consumo à obsolência do “trabalho”


Da sonolência do consumo à obsolência do “trabalho”

por Pedro Jorge Pereira


“As grandes firmas de relações públicas, de publicidade, de artes gráficas, de cinema, de televisão... têm, antes de mais, a função de controlar os espíritos. É necessário criar "necessidades artificiais" e fazer com que as pessoas se dediquem à sua busca, cada um por si, isolados uns dos outros. Os dirigentes dessas empresas têm uma abordagem muito pragmática: "É preciso orientar as pessoas para as coisas superficiais da vida, como o consumo." É preciso criar muros artificias, aprisionar as pessoas, isolá-las umas das outras.” [1]

Vivemos numa sociedade designada “de Consumo”. Como se o consumo tivesse assumido, por si só, uma aura e importância primordial em tudo aquilo que define a nossa sociedade enquanto tal. E a realidade é que - num processo que será tudo menos aleatório ou meramente circunstancial - ao nível cultural, político e ideológico é precisamente isso que tem vindo a suceder e a conseguir-se que suceda: as múltiplas dimensões sociológicas do indivíduo e, por inerência, de todo o colectivo social têm vindo de forma sistemática e quase até “natural” a ser reduzidas e um mínimo denominador comum: O Consumo. Enquanto dogma, valor e até instituição.

O consumo possui hoje, portanto, um significado prático e sociológico profundo em todo um contexto de neoliberalismo hegemónico à escala mundial: muito para além da sua função "pré-histórica" de satisfação de necessidades essenciais, actualmente as supostas necessidades dos indivíduos – necessidades, desde logo, de forma frequente artificialmente criadas e ampliadas até à exaustão pela poderosa indústria publicitária e departamentos de marketing das principais corporações multinacionais – são o pretexto ideal para reproduzir a disseminar o consumo enquanto instituição teológica, dogma cultural e mecanismo prático de alienação colectiva, mas por via de um crescente processo de feroz competição e estratificação individual materialista.
Ou ainda, segundo Baudrillard: “O consumo surge como conduta activa e colectiva, como coacção e moral, como instituição. Compõe todo um sistema de valores, com tudo o que este termo implica enquanto função de integração do grupo e de controlo social.” [2]

Num contexto em que os mecanismos susceptíveis de modificar e configurar toda a conjuntura mundial se encontram, de uma forma ou de outra, apropriados por um conjunto restrito de poderosas corporações – detidas, por sua vez, por um grupo muito restrito de indivíduos: “A ONU calcula que o conjunto das necessidades básicas de alimentação, água potável, educação e cuidados médicos da população mundial poderia ser coberta com uma taxa de menos de 4% sobre a riqueza acumulada das 225 maiores fortunas”. [3] - e quando os mecanismos democráticos convencionais são cada vez menos representativos e algo estéreis, numa sociedade que tende para a homogeneização - através desse propósito comum a todos que é o de consumir -, um dos poucos fenómenos que parece ainda atribuir alguma importância ao indivíduo comum é, precisamente, o consumo. Enquanto consumidores somos teoricamente bajulados por todo o género de promoções e mimos publicitários, técnicas e tácticas de propaganda que, supostamente, existem para nosso benefício e suprema felicidade. Isto porque “nós merecemos”. A apologia é quase sempre a mesma: A exaltação da liberdade individual de (suposta) escolha.

Ao mesmo tempo que esta “era” é celebrada como a era das mil e uma oportunidades e possibilidades de escolha, a realidade é que toda a cadeia produtiva desde a extracção das matérias primas até ao próprio processo de transformação, desde o transporte até ao cada vez maior “afunilamento” dos canais de distribuição, se encontra, cada vez mais, controlado pelas mesmas empresas que de certa forma nos excluem (enquanto cidadãos conscientes, informados e reivindicativos) desse mesmo processo. Dito por outras palavras: Sim, podemos ir ao “shopping” e escolher um produto entre as centenas de marcas disponíveis. Mas, por um lado, essas marcas são cada vez mais propriedade de um conjunto cada vez mais restrito de corporações multinacionais e, por outro lado, ao mesmo tempo que essas mesmas marcas despendem milhões e milhões de euros em seduzir, influenciar e até manipular “consumidores”, continuam a querer revelar muito pouco das condições de produção de muitos dos seus produtos, do impacto sócio-ecológico dos mesmos, das condições de comercialização destes (qual, por exemplo, a percentagem do lucro final que vai realmente para os produtores) e em geral da sua própria política e filosofia que se poderá reduzir em muitos casos a uma máxima muito simples: o maior lucro possível ao menor custo possível. E o “trabalho” é visto meramente como um custo que urge “a todo o custo” reduzir e até, se possível, eliminar ou o mais próximo disso possível.

Aturdidos que estamos nesse "propósito colectivo" e, ao mesmo tempo, ferozmente individualista que é o de consumir, a nossa consciência social, humana e ecológica é, sobremaneira, alienada e as próprias consequências inerentes ao consumo, sobretudo considerando a escala a que este se processa, e os efeitos sociais, laborais e ecológicos das mesmas, estão muito longe de ser percepcionadas por todos nós, elos cruciais que somos nas relações existentes entre as deploráveis condições produtivas nos sítios mais remotos do mundo (destruição de habitantes naturais, situações de exploração laboral, mecanismos económicos de neocolonialismo). Como se o nosso “consumismo ocidental” e o nosso estilo de vida individualista e essencialmente materialista (axiomas cruciais do aparelho ideológico capitalista), devessem funcionar como “farol” e inspiração para o resto da humanidade que a mais não deve aspirar do que a consumir como nós.

Em toda esta reflexão há um aspecto crucial e fundamental a ser analisado: a “obsolência” do factor trabalho.
No fundo a mensagem propalada pelo sistema é muito simples: Já não temos que nos preocupar com trabalhar, com produzir. Podemos simplesmente usufruir de toda a prosperidade desta nova ordem económica e cumprir o nosso papel enquanto consumidores vorazes. O consumo é bom para o crescimento económico. O crescimento económico, propagam quase religiosamente, há-de repercutir-se de uma forma ou de outra num certo bem-estar social generalizado. Por isso o dogma mais enraizado em todo o discurso neoliberal dominante, desde logo nos próprios meios de comunicação social - também eles obedientes, em larga medida, a uma poderosa lógica meramente comercial - é o de que tudo o que importa é crescer economicamente. Tudo o que importa é produzir em larga escala, consumir em larga escala, sem que se saiba muito bem como (com que impactos), porquê (em que é que isso realmente nos beneficia ou nos torna mais felizes) e para quem (quem realmente continua a acumular e acumular fortunas no grande “casino” capitalista global).

Em prol do crescimento económico, do maior lucro possível (que supostamente nos beneficia a todos), em prol de fórmulas e “receitas” desenhadas por tecnocratas da economia e que nem os próprios conseguem muitas vezes perceber ou explicar, num espaço de tempo relativamente curto, basicamente tem-se vindo a desenhar uma nova ordem de contornos inimagináveis há alguns anos atrás.
Em nome do neoliberalismo os governos dos diversos países têm vindo a permitir e até apoiar o abandono da própria estrutura produtiva dos países mais desenvolvidos e a sua transferência para países ditos em desenvolvimento. Apesar do impacto económico que a perda de postos de trabalho implica, sobretudo ao nível das economias locais, apesar do impacto ecológico de estarmos a “trazer” do outro lado do mundo bens básicos que poderiam e deveriam ser produzidos localmente, apesar da forma selvagem como bens e serviços públicos essenciais têm vindo a ser privatizados e levados para o domínio corporativo, tudo se justifica e legitima desde que … estejamos a crescer economicamente.

Com o pretexto de podermos competir em termos de condições laborais (entenda-se desregulamentação quase completa) com as designadas economias emergentes (e a única forma de a esse nível sermos realmente “competitivos” seria estarmos em “pé de igualdade” com aquilo que já se faz sistematicamente na própria China e “economias afins” que é criar condições tantas e tantas vezes de semi-escravatura) o “trabalho” tem vindo a tornar-se cada vez mais precário, cada vez mais “descartável”, cada vez mais tido como um custo produtivo demasiadamente elevado que urge reduzir de todas as formas possíveis e imagináveis. Se possível eliminar até. De certa forma é o que chamam da “externalização dos custos”.
“(…) as empresas não devem gastar os seus recursos finitos em fábricas que exigirão uma manutenção física, em máquinas que se degradarão ou em empregados que certamente vão envelhecer e morrer. Em vez disso, devem concentrar os seus recursos nos tijolos e cimento virtuais usados para construir as suas marcas; ou seja, nos patrocínios, na embalagem, na expansão e na publicidade. Devem também gastá-los nas sinergias: na compra de canais de distribuição e de venda que levem as suas marcas até pessoas. Esta mudança, lenta mas decidida, das prioridades empresariais deixou os produtores não virtuais do passado – os trabalhadores das fábricas e os operários especializados – numa posição precária. Os pródigos gastos dos anos 90 em marketing, fusões e extensões de marca foram acompanhados por uma resistência nunca vista ao investimento em instalações de produção e em força laboral. As companhias que tradicionalmente se satisfaziam com uma margem de lucro de 100 por cento entre os custos da produção na fábrica e o preço de venda a retalho têm percorrido o globo em busca de fábricas que possam fazer os seus produtos de forma tão barata que a sua margem de lucro se aproxima mais dos 400 por cento. “ [4]

A lógica é simples: as grandes corporações multinacionais “descartam-se” cada vez mais (desde logo com a subcontratação de empreiteiros locais nas zonas de produção e exportação geralmente em países subdesenvolvidos dos seus trabalhadores) para concentrarem todos os seus investimentos na “construção de imagem”, nas relações públicas. O que importa é antes de tudo o mais, ou exclusivamente, a “imagem”, a aura mítica que se cria, muito mais do que aquilo que realmente se faz ou se é enquanto empresa e marca. Quantas e quantas vezes mais até que a própria qualidade do produto.

Os direitos laborais e a diluição de assimetrias entre diferentes classes sociais (desde logo laborais) foram algumas das conquistas mais notáveis do século XX, que maior progresso social, cultural e civilizacional trouxeram à humanidade.
É preciso relembrar que vínhamos, até aí, de um contexto anteriormente marcadamente feudal, em que ávidos senhores feudais exploravam tantas e tantas vezes até à penúria completa os seus súbditos.
Posteriormente surgiu um contexto de vertiginosa industrialização em que essa mesma exploração feudal deixou de ser praticada somente nos campos agrícolas mas transferiu-se, em parte, para as cidades onde industriais ávidos de fortunas rápidas exploravam, muitas vezes, a numerosa mão-de-obra “barata” que fugia do campo atrás da perspectiva de um salário e melhores condições de vida nas cidades.
De certa forma essa “concentração” de numerosa mão-de-obra explorada acabou por se revelar algo “explosiva” para a classe dominante dado que veio a dar origem às inúmeras tentativas revolucionárias que marcaram o final do século XIX, início do século XX.
Sem nos estarmos a debruçar muito em detalhe sobre todas as inúmeras reflexões sócio-políticas que se poderiam efectuar, o que podemos de alguma forma concluir, sem incorrer em grandes polémicas, é que foi no século XX que se deram alguns dos mais notáveis avanços ao nível da melhoria das condições de trabalho e de protecção social, de uma forma generalizada, da maior parte da população dos países mais desenvolvidos. Direitos até aí quase impensáveis como o direito a férias, a criação do “fim-de-semana”, segurança social, igualdade de direitos e oportunidades, associação sindical, regalias e protecção social e laboral, foram quase todas “inovações” e direitos muito arduamente conquistados pelos trabalhadores no século XX. Não é que eles nunca tenham existido antes, mas de uma forma tão generalizada à maior parte da população, pelo menos no dito “Ocidente, isso sim, foi algo de muito novo que o século XX nos veio trazer.

O que o neoliberalismo nos está a trazer é uma pilhagem e destruição sistemática desses direitos tão arduamente conquistados.
O “trabalho” tem estado a viver um violento processo de precarização e tem-se vindo a tornar num “facto produtivo” descartável nas mãos dos poderosos agentes económicos capitalistas.
Aquilo que Klein [5] designa dos “McEmpregos” tem vindo a tornar-se a principal realidade laboral dos jovens em todo o mundo.
O impacto económico e social a nível local dessa tendência global é enorme. Sendo os rendimentos da maior parte da população, da designada “força de trabalho”, cada vez mais parcos é toda a vitalidade económica das suas comunidades que se encontra ameaçada.
É, aliás, importante salientar que também nos próprios países ditos desenvolvidos, existem, e cada vez mais, enormes disparidades sociais e o próprio consumo não decorre de forma homogénea mas sim, e cada vez mais, é ele próprio sintomático da existência de estruturas socais piramidais, com enormes disparidades entre o topo e as bases.

É importante pensar que, a meu ver, a dita crise económica resulta não de uma mera fatalidade ou contexto económico inopinado mas muito mais do “desastre” de determinadas políticas económicas “de choque” e paradigmas de pensamento e acção neoliberal que têm vindo a ser ferozmente implementados à escala global.
Como é que alguma sociedade que não produz sequer o que necessita poderá alguma vez aspirar a um desenvolvimento sustentável? Ou uma sociedade que manda produzir em larga escala o que não necessita?
Como é que alguma sociedade, economia, nação se poderá desenvolver realmente sem a existência das melhores condições laborais para os seus trabalhadores? Sem uma plena realização profissional dos seus cidadãos e sem a existência de oportunidades para estes poderem desenvolver o seu melhor potencial?

Será que o indivíduo essencialmente “Consumidor” (e em geral passivo), e cada vez menos “Produtor” se tornou numa realidade irreversível e intrínseca das ditas sociedades “Ocidentais”?
Será que chegamos a um ponto “de não retorno” onde tudo o que nos resta é ficarmos sentados à espera, assistindo obedientemente a tudo o que está a passar sem esboçarmos qualquer acção ou reacção à “ordem estabelecida?
Pessoalmente continuo a acreditar no génio criativo do ser humano, nomeadamente para projectar e criar uma nova ordem mundial inspirada em valores de cariz bem mais humanista, ético e fraterno.
Pessoalmente continuo a acreditar na capacidade do indivíduo, e dos cidadãos reunidos em associações, ONG´s, cooperativas e grupos informais, ser membro activo do processo produtivo, assim como poder possuir o conhecimento e controlo desse mesmo processo. Zelando para que ele possa, ao invés do que tem vindo a acontecer em larga escala, ser de facto benéfico para a sociedade no seu todo. O que implica não danificar os ecossistemas naturais e humanos. O que implica permitir que o trabalho seja respeitado, valorizado, protegido e capaz de gerar bem-estar social e económico para todos os trabalhadores.
Pessoalmente duvido que uma tal ordem possa partir dos mesmos centros de poder e decisão que têm vindo sistematicamente a criar precisamente o contrário daquilo a que se deve aspirar. Por isso parece-me óbvio que a criação de uma tal ordem tem necessariamente que partir de todos os indivíduos livres e simples que ainda têm capacidade de acreditar nos seus sonhos e em que “outro mundo é possível”, desde logo sonhando-o de forma diferente.

Pedro Jorge Pereira
Formador e Activista Eco-Social
Coordenador do Projecto EDUCACES
ecotopia2012@gmail.com
93 4476236

* Artigo realizado para Barómetro Social
http://barometro.com.pt/

Da sonolência do consumo à obsolência do “trabalho” – Parte I
http://barometro.com.pt/archives/264
Da sonolência do consumo à obsolência do “trabalho” – Parte I
http://barometro.com.pt/archives/266

Publicado Integralmente em:
http://thechange2004.blogspot.com/2011/03/da-sonolencia-do-consumo-obsolencia-do.html


[1] Chomsky, Noam; (2002), Duas horas de lucidez, Mem Martins: Editorial Inquérito.

(2) Baudrillard, J. (1996). A sociedade de consumo. Lisboa, Edições 70.

[3] Ramonet, I. (1998). The politics of hunger. [Em linha]. Disponível em . [Consultado em 10/01/2003].

[4] Ortega, In Sam We Trust citado em Klein, Naomi. (2000). No Logo – O poder das marcas. Lisboa, Relógio D`Água

[5] Klein, Naomi. (2000). No Logo – O poder das marcas. Lisboa, Relógio D`Água


Monday, March 21, 2011

Abraço ao Tua – Dia 27 de Março pelas 15h – na Foz do Tua

Abraço ao Tua – Dia 27 de Março pelas 15h – na Foz do Tua

Na Foz do Tua, os cidadãos pela defesa da Linha e Vale do Tua querem mostrar que Há Vida no Tua e apelámos a todos a participar no Abraço de Solidariedade com as pessoas que vivem na Região de Trás-os-Montes e Alto Douro e que dependem deste Bem Comum.

Programa:
(saídas do Porto e de Lisboa)

Programa
7h25 Saída de Estação Campanhã/Porto
10H00 Encontro na estação do Tua
10h30 Início da caminhada pela Linha do Tua: Castanheiro até Foz Tua*
14h00 Almoço/Piquenique (trazer farnel)
15h00 ABRAÇO ao TUA
16h00 Convívio e outras actividades

* Transporte de autocarro até Castanheiro (5€) + Seguro (1€); percurso de média dificuldade (sobre travessas dos carris) – trazer botas, água, reforço alimentar e roupa adequada às condições metereológicas.

Inscrição 6€
Inscrição em http://www.campoaberto.pt/contacte-nos/inscricoes-1/

Com o avanço das políticas que levam à ruína uma Linha Ferroviária que é parte do Património Vivo desta região a única forma de preservar o coração do Vale do Tua é dar os braços e impedir a sua destruição e garantir a prosperidade de todas as pessoas que subsistem desta enorme grandeza natural e cultural. Com este ABRAÇO ao TUA queremos expressar a profunda admiração que nutrimos pela beleza natural do rio e a harmonia que a Linha do Tua serpenteou ao longo de uma paisagem cheia de cor e vida.

A Linha do Tua tem uma importância fundamental para o desenvolvimento sustentável e para a qualidade de vida das pessoas desta região e é um meio de grande interesse para a exploração do Turismo na Região de Trás-os-Montes e Alto Douro. O corte da linha amputa um importante eixo de mobilidade inutilizando os 133km de linha férrea que liga Bragança e Mirandela à Linha do Douro e impede a ligação à Régua e Porto. Esta barragem acaba também com a possibilidade de modernização da Linha do Tua desde Bragança até Puebla de Sanábria, um troço de 40km que ligaria toda esta região às redes ferroviárias convencionais de Espanha e também à Rede Internacional de Alta Velocidade. .

Todo o Vale do Tua é um potencial de desenvolvimento que se deve defender e uma boa gestão dos recursos passa por modernizar a Linha do Tua para assegurar um transporte seguro, económico e ecológico que não dependa de combustíveis fósseis.

É tempo de aproveitar aquilo que Portugal tem de bom! Todos perdemos com a construção da barragem!

Juntem-se neste Abraço ao Tua. Pelo Vale, pela Linha, pelo Tua!

** A organizar por associações culturais locais

Ergue a tua Voz
À Luz da Lua!
Junta-te a Nós,
A Linha é Tua!

O comboio vai passar
Traz nele uma criança
Está feliz vem a cantar
Muito perto de Bragança!

Mais informações:
Nuno Pereira – 962621945
Email: abracoTUA@gmail.com

A Linha e Vale do Tua conta com todos.

O Movimento de Cidadãos em Defesa da Linha do Tua
Contacto: Armando Azevedo ou Graciela Nunes – gracielanunes@sapo.pt
TM: 965 622 858

A Associação dos Amigos do Vale do Rio Tua

Campo Aberto
Contacto: Daniel Carvalho – danielpc@fastmail.fm
TM: 965402834
www.campoaberto.pt

GAIA
Contacto: André Studer – andre.studer@gmail.com
TM: 965698370
www.gaia.org.pt

COAGRET
Contacto: António Lourenço – ajm_lourenco@hotmail.com
www.coagret.com

Quercus
Contacto: Melissa Shin – melissa.shinn@gmail.com
www.quercus.pt



Thursday, March 17, 2011

Oficina sobre Consumo Crítico e Consciente O3C´s, Dia 26 de Março de 2011, Sábado, às 10h00

Oficina sobre Consumo Crítico e Consciente

O3C´s

Dia 26 de Março de 2011, Sábado, às 10h00

(duração aproximada: 3h00)

Inscrições Limitadas


As grandes firmas de relações públicas, de publicidade, de artes gráficas, de cinema, de televisão... têm, antes de mais, a função de controlar os espíritos. É necessário criar "necessidades artificiais" e fazer com que as pessoas se dediquem à sua busca, cada um por si, isolados uns dos outros. Os dirigentes dessas empresas têm uma abordagem muito pragmática: "É preciso orientar as pessoas para as coisas superficiais da vida, como o consumo." É preciso criar muros artificias, aprisionar as pessoas, isolá-las umas das outras.”

Noam Chomsky


É um "lugar comum" dizer-se que a nossa sociedade se globalizou. Talvez seja mais difícil, no entanto, compreendermos ou reflectirmos sobre as mais diversas formas e repercussões dessa mesma globalização na nossa realidade do dia-a-dia. Nunca como hoje os bens que consumimos vieram tanto e de locais tão distantes do nosso planeta. Mas que implicações concretas esse facto terá para cada um de nós?

Numa sociedade dita de consumo cerca de 20% da população dos países ditos “mais desenvolvidos” consome cerca de 80% dos recursos. Esse consumo, ou para se ser mais exacto, consumismo, tido como “normal” e até intrínseco no nosso modo de vida tem no entanto pesadas implicações ambientais e sociais. A nível ecológico é desastrosa a forma como a nossa espécie tem vindo a levar à exaustão os mais diversos recursos naturais do planeta, provocando uma destruição sem ímpar dos habitats selvagens da Terra. Para além disso, e paradoxalmente, uma grande parte dos bens produzidos (quase 90%) são produzidos para uma utilização efémera (uma única vez) e muitas vezes por breves segundos, sendo depois responsáveis pela produção de toneladas e toneladas de resíduos cujo tratamento implica também, ele próprio, uma elevada factura ecológica e económica. De entre esses resíduos destacam-se os plásticos, muitos vezes particularmente complexos em termos de reciclagem e recuperação, e outros materiais que quando libertados no meio ambiente natural provocam danos bastante sérios nos ecossistemas e nas espécies animais (muitas aves e mamíferos marinhos, por exemplo, morrem por asfixia devido à ingestão dos mesmos).

A nível económico e social (instâncias que desde logo se encontram intimamente associadas, se é que existe qualquer separação sequer, aos aspectos ecológicos dos fenómenos) os impactos da dita mundialização da economia (outra forma talvez de designar um fenómeno com uma agenda ideológica bem marcada como é o do neoliberalismo) estão longe de se traduzir em efeitos muito positivos para as comunidades locais.

Tendo-se os nossos hábitos de consumo (ou maus hábitos) tornado tão banais e inconscientes, a questão que urge lançar é: o que podemos nós fazer para fazer a diferença? Para mudar positivamente o nosso estilo de vida adoptando comportamentos e hábitos mais conscientes e positivos do ponto de vista ecológico e social?

A proposta da Oficina sobre Consumo Crítico e Consciente é uma viagem de reflexão sobre o nosso estilo de vida através de cores, aromas e lugares nevrálgicos para a actividade económica, cultural e social da cidade do Porto, cidade de resto bem conhecida pelo seu “Comércio”. É uma viagem “viva” sobre alguns dos efeitos da globalização económica na nossa comunidade local, assim como um exercício prático de reflexão sobre as nossas escolhas e opções enquanto cidadãos consumidores, nomeadamente em termos de pegada ecológica e atitude cívica.

As questões mais fundamentais a colocar são contudo:

Podemos viver sendo parte da solução em vez de parte nesse tremendo problema actual que consiste na quantidade de resíduos que produzimos diariamente? Podemos consumir de forma bem mais consciente? Conhecemos bem a realidade sócio-económica do comércio na nossa cidade e comunidade local? Podemos viver consumindo menos mas melhor? Podem as nossas escolhas e opções enquanto cidadãos fazer a diferença?

É a resposta a essas e muitas outras questões que certamente surgirão que iremos tentar desvendar nas ruas da cidade do Porto.


Facilitador: Pedro Jorge Pereira - Activista Eco-Social e Formador

Apoio: Casa da Horta – Associação Cultural

Participação limitada ao número de vagas existentes. Prioridade por ordem de inscrição.


Dia 26 de Março de 2011, Sábado, às 10h00

(duração aproximada: 3h00)

Inscrições Limitadas


Ponto de Encontro: Av. dos Aliados, em frente à C.M. do Porto, junto à estátua de Almeida Garret

(Percurso essencialmente de rua e, portanto, sujeito às condições climatéricas existentes. A confirmação será enviada por e mail até 24h anteriores à actividade. Trazer roupa e calçado confortável. )


Contribuição: 5,00*

* Para auto-financiamento do projecto de sensibilização e trabalho formativo


Data Limite das Inscrições:

24 de Março, 5ªfeira


Contactos, informações e Inscrições:


Pedro Jorge Pereira

93 4476236

ecotopia2012@gmail.com


http://casadahorta.pegada.net/entrada/2011/03/17/oficina-sobre-consumo-critico-e-consciente-o3c%C2%B4s-dia-26-de-marco-de-2011-sabado-as-10h00/

http://thechange2004.blogspot.com/2011/03/oficina-sobre-consumo-critico-e.html


35 anos depois de Ferrel, Península Ibérica exige o fim da energia nuclear

Lisboa, Porto, Madrid

15 de Março de 2011

35 anos depois de Ferrel,
Península Ibérica exige o fim da energia nuclear

Há 35 anos atrás, a população de Ferrel marchou contra a construção da primeira central nuclear em Portugal e estabeleceu um marco na rejeição do nuclear em Portugal. Também em Espanha, nos anos 70, fortes mobilizações anti-nucleares conseguiram impedir 10 dos 25 projectos planeados. Contudo, o acidente de Fukushima veio relembrar que os perigos da energia nuclear não conhecem fronteiras. Organizações portuguesas e espanholas reclamam agora o encerramento de todas as centrais nucleares em Espanha.

A situação nuclear no Japão

No passado dia 11 de Março, o Japão foi devastado por um sismo de magnitude 9,0 graus na escala de Richter e consequente tsunami. Para além da significativa perda de vidas humanas e de bens, as consequências podem ser ainda mais graves devido a problemas registados nas centrais nucleares.Esta situação expõe as fragilidades e os riscos associados ao uso da energia nuclear de fissão, não obstante o enorme investimento feito em segurança e o discurso tecnocrata de que tudo é controlável.

Vários especialistas consideram já este como o segundo maior incidente nuclear da história e não excluem a hipótese de ultrapassar a gravidade de Chernobil. Há neste momento vários reactores em risco de fusão do núcleo e já ocorreram várias fugas de compostos altamente radioactivas. Uma catástrofe ecológica e social é, neste momento, uma forte possibilidade. A gravidade da catástrofe, não só para o Japão, como também para os países vizinhos, será ditada pelo que se venha a passar com os reactores (que continuam a constituir uma incógnita para os especialistas), bem como pela direcção dos ventos que transportam as nuvens radioactivas.

Portugal disse não ao nuclear em Ferrel, há 35 anos

Em 1976 ainda não tinham ocorrido os acidentes nucleares mais graves da história: Three Mile Island (1979), Chernobyl (1986) e Fukushima (2011). Tal não impediu a população de Ferrel (localidade situada numa zona de sismicidade elevada, no concelho de Peniche) de marchar contra a construção de uma central nuclear na sua terra, a 15 de Março de 1976.

Também em Espanha se geraram fortes mobilizações anti-nucleares em Espanha, que conseguiram impedir a construção de 15 centrais nucleares no território espanhol. Como resultado, apenas entraram em funcionamento 10 reactores nucleares dos 25 planeados. Destes dez, um deles foi encerrado após o acidente de Vandellós em 1979 e a de Zorita encerrou em Junho de 2004.

35 anos depois, é tempo de reavaliar as unidades que se construiram por toda a Europa e, em particular na Península Ibérica, onde Espanha conta com 6 centrais nucleares (8 reactores) em operação, duas delas (Sta. María Garoña, perto de Burgos e Cofrentes, perto de Valência), utilizando a mesma tecnologia (BWR) que a central de Fukushima. A Central Nuclear de Almaraz, junto ao Tejo e a 100km da fronteira portuguesa, já ultrapassou o período previsto de funcionamento e há alguns meses foi decidido prolongar em 10 anos o seu período de actividade. Este é mais um factor de preocupação para Espanha e para Portugal. Em caso de um grave acidente nuclear, os impactos dificilmente ficarão contidos nas fronteiras espanholas.

Pedimos o encerramento faseado das centrais nucleares espanholas

A energia nuclear é prescindível em Espanha, dado que este país exporta energia eléctrica a todos os seus países vizinhos, incluindo França. A electricidade produzida pelas nucleares pode substituir-se por medidas de poupança e eficiência e por um forte apoio às energias renováveis. Desta forma poderia libertar-se a Península Ibérica do risco que constitui o funcionamento do 8 reactores nucleares, eliminando a possibilidade de desastres com o de Fukushima, no Japão.

Além do mais, evita-se a necessidade de gestão de resíduos radioactivos que venham a ser produzidos. Actualmente há cerca de 3500 toneladas de resíduos de alta actividade, que chegariam a 7000 Tm. Com o encerramento faseado das nucleares, o volume de resíduos nucleares seria convenientemente reduzido.

Se queremos uma sociedade sustentável, não podemos apostar em formas de produzir energia que possam pôr em causa as gerações presentes e as futuras, seja através da exploração do urânio, da ocorrência de acidentes ou através do legado futuro em termos de desmantelamento e deposição final dos resíduos nucleares.

Esperamos que a situação se resolva sem danos significativos para as pessoas e para o ambiente, mas o aviso é claro e não pode deixar de ser ouvido por todos aqueles que desejam uma sociedade sustentável e com futuro. As organizações subscritoras deste comunicado, apelam, por isso, ao encerramento de todas as centrais nucleares em Espanha.

Para mais informações:

AZU - António Eloy: +351 919289390

Ecologistas en Acción - Javier González (Área de Energía): +34 679 27 99 31

Francisco Castejón (Campaña Antinuclear): +34 639 10 42 33

GAIA - Gualter Barbas Baptista: +351 919090807

Quercus - Susana Fonseca: +351 937788471


Tuesday, March 08, 2011

BARRAGEM DO TUA: OS SUBTERRÂNEOS DA POLÍTICA

Um excelente artigo, extremamente bem elucidativo da teia de jogos económico-partidários diria, praticamente, mafiosos que estão a ameaçar gravemente todo o nosso património natural, cultural, económico, etc.

Neste caso uma das mais valiosas jóias nacionais: o Tua e toda a região de Trás-os-Montes.

Demonstra bem também de como estes “boys” regionais estão mais interessados nas suas perspectivas de ascensão na máquina partidária do que com qualquer interesse das regiões e populações que os elegem …

Portugal, o país dos políticos e gestores públicos pequenos (mas curiosamente com os maiores salários da Europa) e das grandes negociatas … uma referência ainda bem elucidativa a estas novas “agências de desenvolvimento local” e da sua (in)utilidade …



BARRAGEM DO TUA:

OS SUBTERRÂNEOS DA POLÍTICA

por Francisco Gouveia, Engº

(Sócrates veio ao Tua inaugurar a 1ª pedra tumular de Trás-os-Montes.

E veio com segurança, sem oposição dos autarcas mais directamente envolvidos. Porque antes o terreno foi devidamente preparado com eficácia pela máquina regional do PS.

Já agora convém lembrar que a empreitada da barragem foi adjudicada pela EDP de António Mexia, ao consórcio Mota-Engil/Somague/FMS, cuja empresa-mestra é presidida pelo socialista Jorge Coelho, que também está a fazer o túnel do Marão e a A4.

Vamos lá tentar “escavar” estes subterrâneos políticos)

Antes de mais, e para que se perceba a dimensão do problema, convém referir estes factos: a Barragem do Tua ficará situada a cerca de 1 Km da sua foz, terá um paredão com 108 metros de altura, um comprimento no coroamento (parte superior) de 275 metros, e a albufeira estender-se-á ao longo de 37 Km. Trata-se, efectivamente, de um monstro de betão, e de uma albufeira que eliminará o vale do Tua definitivamente.

Alterações do micro-clima, da fauna, flora, das condições de habitabilidade, e outras, serão sentidas perpetuamente, para além de algo que dinheiro nenhum do mundo paga: as consequências psicológicas de se fazer desaparecer do mapa toda uma região. Hectares de belezas naturais e patrimoniais que nunca mais ninguém verá. A Barragem do Tua vai destruir uma parte de Trás-os-Montes e, submergindo 16 Km de linha férrea, acabar com a linha de vez. Tudo isto em nome de um plano hidroeléctrico que por cá é responsável por barragens que representam 40% da produção eléctrica nacional, sem que, por isso, o bem-estar dos transmontanos e durienses tenha melhorado um vintém.

Posto isto, vamos então tentar perceber o que se passou.

A princípio, a oposição política à Barragem era grande. Uma das suas principais vozes era José Silvano (PSD), Presidente da Câmara de Mirandela, para quem a linha ferroviária do Tua era a única ligação do seu concelho à rede nacional. Das restantes Câmaras afectadas (Alijó, Carrazeda, Murça e Vila Flor) a contestação, se alguma vez se ouviu, era mais branda. E porquê?

Murça e Vila Flor são Câmaras lideradas em maioria pelo PS. Pequenas Câmaras mais interessadas (e habituadas) a esperar para ver se da mesa de Lisboa caem algumas migalhas, do que a intervir tomando posições em que se possam comprometer. E depois, e acima de tudo, são do PS, e este Plano Hidroeléctrico era da execução do PS.

Relativamente a Carrazeda de Ansiães, o seu Presidente, José Correia, foi eleito numa coligação PSD/CDS, mas ganhou por uma “unha negra” (só com 67 votos a mais) a uma outra coligação de independentes. Em último foi eleito Augusto Faustino, pelo PS. José Correia teve que governar em minoria, com um executivo de 5 elementos, formado por si e pelo seu colega de coligação, os dois eleitos da coligação opositora de independentes, mais o eleito do PS. Ora está mesmo a ver-se, nestas circunstâncias (2+2+1), em quem está o poder de fazer a maioria numa votação camarária. José Correia tornou-se assim, politicamente, “refém” de Augusto Faustino e, consequentemente, do PS.

Entretanto, em Alijó, está Artur Cascarejo (PS) que governa em maioria, e que acumula também com o lugar de Presidente da Comunidade Intermunicipal do Douro, e é o político duriense que é visto mais vezes nos órgãos de comunicação social e que não perde evento onde possa ficar ao lado de uma câmara de TV (exemplos que confirmam as suas ambições políticas – e contra isso nada). Artur Cascarejo começa, a partir de uma certa altura, a ter uma atitude mais activa no processo. A ele se junta Ricardo Magalhães, Presidente da Estrutura de Missão do Douro, e serão estes que se encarregarão de limar as últimas arestas que se opõem à viabilidade da Barragem. Entretanto, o Dr. José Silvano mantém-se irredutível.

É então a vez de Artur Cascarejo assumir publicamente e com veemência, que Alijó quer a Barragem (como se tivesse feito algum referendo) e, numa célebre entrevista à Rádio Bragantia, com ar sério mas denotando uma fragilidade como nunca lhe vimos, argumenta a favor da Barragem com base no espelho de água imenso que poderá ser um potencial turístico, nos 4 pólos museológicos que vão nascer, fruto da colaboração do Museu do Douro com o Museu de Favaios, e na Agência que vai gerir o futuro Vale do Tua.

E fiquei pasmado. Porque até já tinha elogiado o Dr. Artur Cascarejo por opções que tomou pelo modelo de regionalização e outras opções para a região, e senti naquela altura que havia ali algo mal explicado. Senão, vejamos: seria isto a base da sua argumentação para defender a Barragem? Um espelho de água? Quantos há no Douro? E que nos trouxeram? E 4 museus? 4? Ainda por cima com o aval do Museu do Douro? Que nem o seu sabe governar? Alguém vem ao Tua ver 4 Museus? E Museus de quê?

Mas depois, percebi. A tal Agência, de que se vinha falando, é que era o busílis da questão! Disse ele que a tal Agência era para gerir o Vale do Tua. Lapso seu, porque o Vale seria submerso e deixaria de existir. Mais tarde emendaria: futuro vale ecológico, ou zona natural, ou coisa que o valha. Algo a construir, portanto. Mas, como disse, a questão prendia-se com a tal Agência.

É então que a figura da tal Agência começa a ganhar forma, estrutura, e o aval de Lisboa. Começa assim a gestação efectiva da Agência Regional de Desenvolvimento do Tua. Não é que esta ideia das Agências Regionais fossem algo de novo, mas era agora algo de concretizável. De tal modo que o Governo garante logo à partida verbas para a sua instalação. Era uma migalha para o montante envolvido no negócio da Barragem. E o objectivo dessa Agência é gerir os 3% que a EDP anualmente pagaria como comparticipação na produção de energia produzida pela Barragem. A EDP daria um chouriço e receberia um porco!

Restava, como opositor, o Dr. José Silvano de Mirandela. Mas não durou muito a oposição do Dr. Silvano, já que dá o dito por não dito e altera o seu discurso em Janeiro deste ano, aproveitando, como desculpa, o empurrão do despacho da Ministra do Ambiente que aprova o projecto da Barragem.

E diz o Dr. Silvano que desiste de lutar contra a construção da Barragem, desde que seja garantida a mobilidade entre a Barragem e Mirandela, e desde que a gestão dos 3% da comparticipação da Barragem fossem geridos pela tal Agência.

Ninguém entendeu esta cambalhota do Dr. Silvano, tanto mais que já se sabia que a mobilidade nunca seria garantida. Ou seja: com a submersão dos 16 Km da linha do Tua, a ligação ferroviária a Mirandela acabaria.

A EDP, no entanto, garantia essa mobilidade, e até se comprometia a pagá-la. E de que maneira? Chegados os utentes de comboio à Estação do Tua, há que sair, seguir de barco até à barragem, depois subir em funicular, da base do paredão até lá acima à albufeira, aí embarcar num ferry até Brunheda, retomando depois a viagem de comboio numa linha ferroviária totalmente remodelada tipo Metro de superfície, até Mirandela.

E será que alguém com a cabeça em cima dos ombros acredita que isto tem alguma viabilidade? Isto não dá vontade de rir? Então de Inverno, com ela a cair rasgadinho, o vento a soprar como doido, andar a subir em funicular e fazer-se às águas de barco, deve ser algo tão apetecível como fazer uma viagem no Titanic!

Mas mesmo que isso se concretizasse, a REFER já tinha dito que a submersão de 16 Km de via era o fim da linha do Tua! Por outro lado, de Brunheda a Mirandela, são 33 Km de comboio. A remodelação deste troço de via custa 30 milhões de Euros, dos quais a EDP só garante 10 M. Os restantes 20 M têm que ser pedidos à UE com a intervenção da CCRN. Ou seja, só um terço do dinheiro está garantido, e mesmo assim a REFER não quer reactivar a linha porque naquelas condições (viagem de funicular e depois de barco), a restante linha será ainda mais deficitária do que já é.

Conclusão: Mirandela vai ficar, seguramente, sem linha ferroviária.

Perante a precariedade evidente da garantia de mobilidade a Mirandela, o que levou o Dr. José Silvano a mudar tão depressa de opinião?

Contudo, e apesar da lógica de todos estes óbices, o certo é que, por estes dias, logo antes da visita de Sócrates e da célebre inauguração da 1ª pedra da Barragem, os cinco autarcas reuniram-se sob o patrocínio da Estrutura de Missão, e assinaram o protocolo de formação da tal Agência bem como os seus Estatutos. Estatutos esses que só esses autarcas e Eng. Ricardo Magalhães conhecem.

Estatutos de uma Agência Regional de Desenvolvimento que não vai desenvolver nada, mas que vai gastar os tais 3% em ordenados de Administradores, Assessores, Consultores, e pessoal apadrinhado, desenvolvendo depois projectos que, esses sim, aguardarão aval do Orçamento de Estado. Ou seja: lucros da EDP para pagar mordomias a políticos, e projectos para serem pagos com os nossos impostos. Esta Agência tem assim cara de ser uma espécie de Conselho de Administração da EDP, mas em ponto pequenino. Em ponto de 3%. Esta Agência será mais um albergue dourado da classe política. Senão, é esperar para ver quem se vai sentar nos tais lugares. Senão, é ver quando os senhores Presidentes de Câmara da região terminarem os mandatos e não puderem, por força da lei, continuar a exercer as presidências autárquicas, que cargos irão ocupar. É tudo uma questão de tempo.

Mas há ainda outra questão estranha. O facto é que, quando damos voltas a estas coisas do princípio ao fim, acabamos por tropeçar sucessivamente em gente do PS. É que a empresa-mestra do consórcio que vai construir a Barragem (o consórcio a quem a EDP adjudicou a obra, é a Mota-Engil/Somague/MFS), tem como Presidente o socialista Dr. Jorge Coelho. Empresa que também está a fazer a A4.

Por outro lado, logo que começou a falar-se na eventual queda do Governo, a Ministra do Ambiente e restantes, trataram logo de assinar as papeladas de aprovação do projecto e, por sua vez, a EDP já tinha a obra adjudicada ao tal consórcio. Isto é que é rapidez! Melhor dizendo: eficiência! E Sócrates veio logo a correr fazer a inauguração da obra, não fosse o diabo tecê-las! Porquê tanta pressa?

Se isto fosse um puzzle, eu diria que as peças se encaixam na perfeição. A escritora Margarida Rebelo Pinto diz num dos seus livros que “Não Há Coincidências”.

Mas eu, que até não sou particularmente adepto daquela escritora, e que detesto fazer puzzles, até acho que isto é tudo uma coincidência, que não há subterrâneos na política, que a Barragem do Tua vai ser uma maravilha, que Trás-os-Montes com ela vão ter um desenvolvimento tremendo, que os senhores autarcas têm plena consciência da herança positiva que deixam para o futuro, que os boatos sobre os seus interesses na Agência são puras calúnias, que a Estrutura de Missão é uma instituição que veio para o Douro para o ajudar a crescer e a resolver os seus problemas e que essa coisa de ser o “pau mandado” do Governo é um insulto injustificável, que António Mexia é um homem que está a fazer o melhor para o país apesar de nos cobrar nas facturas o que não gastamos porque se trata de um investimento no futuro, e que Sócrates é um homem com uma visão genial, um visionário, e que por isso é um incompreendido.

E depois, meus amigos: pensem como é belo um paredão de cimento com 100 metros de altura a tapar o vale do Tua!

E como é belo um lago de 37 Km tendo no fundo o património e os esqueletos do nosso passado milenar!

Acho até que a tal Agência pode comprar submarinos para que os turistas possam visitar o Vale do Tua. Olha que rica ideia que eu tive!

E para que são precisas as linhas ferroviárias?

Vem aí o futuro! Abaixo as linhas ferroviárias! Vivam as naves espaciais! Vivam os OVNIS!

(in Jornal “Notícias do Douro”, Régua, 3 Março 2011)