Porto
Não há muito que se possa dizer para descrever a forma como a minha cidade, o Porto, tem sido (pseudo) administrado. É interessante (mas doloroso e desastroso) verificar os supostos reponsáveis políticos empenhados num frenético processo de desresponsabilização, acossados por uma febre privatizante sem precedentes. Equipamentos e património municipal a serem alvo de processos de privatização e entrega do património público e municipal a entidades que não visam mais do que o seu próprio lucro. Esta febre não conhece qualquer género de limites. É um Porto à moda de “Rio” cujo o único programa político parecem ser corridas de carrinhos e aviões. Não gosto de me meter em política, sobretudo a partidária, mas, acima de tudo, não posso permanecer indeferente à forma como a minha cidade tem sido (pessimamente) tratada. Ao mesmo tempo, vejo a política de Ambiente desenvolvida como pouco mais do que virtual ... Tal como a nível da cultura municipal o que se passa a nível ambiental é pouco mais do que ... nada. Não se passa nada no Porto, parece que só há lugar para passar aviõezinhos, carrinhos de corrida, espectáculos musicais pimbalheiros ... e é isto. Zonas verdes? Ambiente? Mobilidade sustentável? Que é isso? Parque Oriental? Isso então, que é isso?
E partilho esta mais que valiosa reflexão sobre o Parque Oriental pelo sempre atento e interventivo Bernardino Guimarães:
O Parque Oriental
Figurando em praticamente todos os programas eleitorais autárquicos
desde há muito, o Parque Oriental aparece e desaparece da agenda
política municipal ao sabor de conveniências e impulsos. Para o
Porto, este espaço verde significa a última oportunidade de um
acrescento significativo e estratégico ao seu parco acervo de zonas
de lazer e de fruição da Natureza, claramente insuficiente hoje em
dia.
Situado na freguesia de Campanhã, entre os rios Tinto e Torto,
encravado num tecido urbano deprimido e esquecido, subsiste ainda aí,
e resiste, um conjunto de grande importância ecológica, feito de
corredores arbóreos ao longo do curso dos rios, zonas que foram de
produção agrícola e vestígios de quintas. Exposto à degradação, os
rios contaminados e quase transformados em esgotos a céu aberto, nem
por isso ficou irremediavelmente comprometida a possibilidade de
recuperação e de resgate da beleza e da biodiversidade. Se o
esquecimento daquela zona da cidade foi factor de empobrecimento e de
abandono, a verdade é que permitiu, contra o que acabou sendo regra
em todo o concelho portuense, a permanência de pequenos bosques e de
margens ribeirinhas onde a Natureza ainda tem lugar.
Recuperar e restaurar esse património, fazer da criação de um grande
espaço verde uma alavanca para a melhoria da qualidade de vida das
populações, integrar esse esforço num gesto mais abrangente que ligue
ao vizinho concelho de Gondomar, alargando se possível o espaço e o
alcance útil da iniciativa - eis o que é necessário e urgente.
Mas, o que vemos? Há quatro ou cinco anos, a teimosia inexplicável da
Câmara, imposição de tecnocratas sem bom senso, conduziu à construção
da chamada "Alameda de Azevedo", uma ferida que ficou, mutilando o
território sem vantagens aparentes para a mobilidade da freguesia e
cortando em dois o que deveria ser futuro Parque Oriental.
Apesar da polémica suscitada, nada deteve os mentores do
atravessamento, para o qual havia alternativas e que não veio, de
resto, resolver os problemas reais daqueles confins de Campanhã.
Feito isto, e após algumas tentativas de reanimar a ideia do Parque
Oriental, da responsabilidade do então vereador do Ambiente, o
silêncio voltou a cair sobre a promessa sempre adiada. Os últimos
orçamentos municipais já nem se lhe referem. O Gabinete para o Parque
Oriental foi extinto. Não se conhece, do actual vereador do Ambiente,
ideia alguma sobre o assunto.
Única novidade como resposta às acusações de esquecimento do que
seria a segunda maior zona verde da cidade, o edil encarregue do
Ambiente terá alegado, em sua defesa, que o projecto está parado à
espera de uma decisão sobre o local de entrada do TGV na Invicta!
É caso para dizer só faltava mesmo mais esta? sem que a novidade nos
convença. Nada pode justificar que se deixe cair a ideia do Parque
Oriental. É certo que os portuenses conhecem mal aquele sítio e o seu
potencial. Para muitos, está a falar-se já de algo de "exterior" à
cidade. Mas não é assim. Além do mais, precisa-se de uma abordagem
metropolitana quanto a corredores ecológicos, áreas verdes, rios e
ordenamento do território. Continuamos com uma carência estrutural de
espaços verdes públicos, a anos/luz da percentagem por habitante que
é comum nas cidades europeias. É muito importante que se demonstre,
na prática, que a salvaguarda do que resta de natural, pode ser, e é,
um instrumento de humanização da cidade, tanto mais necessário quanto
são carenciadas e pobres as áreas em questão. Convém que se diga à
cidade, com franqueza, se esta é, afinal, uma promessa para ficar na
gaveta!
Bernardino Guimarães
http://jn.sapo.pt/2008/01/29/porto/o_parque_oriental.html
Deixo ainda uma passagem do livro “Be the Change” muito a propósito:
“Por todos estes aspectos, pode-se facilmente afirmar que os modelos de urbanização que têm vindo a ser seguidos, sobretudo se pensarmos numa densa aglomeração de construções e indivíduos, são um dos aspectos mais nevrálgicos na elevada insustentabilidade que tem vindo a caracterizar a nossa sociedade e consequentemente vindo a gerar a generalidade dos problemas sociais e ecológicos (pessoalmente creio que ambos os conceitos acabam por ser um só e o mesmo) que têm vindo a caracterizar a nossa realidade. Obviamente que o que está em causa não é termos de voltar a viver todos em aldeias ou de forma totalmente igual à dos nossos avós (muitas vezes é esse tipo de manipulação que os defensores do sistema, e dos modelos de exploração que lhe estão implícitos, tentam afirmar, tentam de forma manipuladora afirmar que uma qualquer crítica ao sistema industrial e ideológico instituído é um retorno ao passado) mas creio que é importante reflectirmos sobre as diversas transformações ocorridas no nosso estilo de vida sobretudo num contexto pós industrial. Reflectir também sobre em que medida registamos progressos, ou, se pelo contrário, regredirmos e gerámos problemas e modelos de vida extremamente nefastos para o ambiente, para vida, para nós próprios. Em suma: estilos de vida que são o oposto da sustentabilidade ecológica, social e individual essenciais ao nosso verdadeiro progresso colectivo e individual.”
in Pereira, Pedro Jorge; “Be the Change you Want to See - uma outra perspectiva do mundo através do voluntariado”, (Porto, Planeta Terra: GAIA, 2006) p.61
No comments:
Post a Comment