Tuesday, December 19, 2006

A Consciência da Massa


A Cris deu-me a descobrir um texto que, de forma tão primordial, foi capaz de exprimir em verbos, palavras, pensamentos com os quais tão frequentemente me encontro e reencontro sem ser muito capaz de os fazer-se manifestar ... abordei-os em “Be the Change” e foram até cruciais na forma como se estruturou todo o projecto ... no fundo andam “à volta” daquilo que são os padrões “normalizados” de pensar, no que são as normas sociais e culturais da sociedade em que nos inserimos e suas múltiplas implicações ...


Pessoalmente, tenho a convicção de que quando a humanidade atinge este ponto de desumanidade é tempo de parar para pensar naquilo em que nos tornámos e, sobretudo, colocar em causa aqueles que são os padrões de pensamento dominantes. Foi isso que uma grande parte dos portugueses, se calhar a maioria, não fez durante a ditadura fascista, e por isso mesmo tivemos todos aqueles anos de fascismo retrógrado e reaccionário. Foi isso que provavelmente a maior parte dos alemães não fez durante o nazismo. Foi isso que talvez uma grande parte dos soviéticos não fez durante o regime totalitário estalinista. É isso que talvez uma grande parte de nós não faça hoje numa época de acentuado liberalismo económico onde por vezes é mais legítimo um milionário ter uma piscina repleta de água para as suas festas “socialite” do que milhares de pessoas matarem a sede. Vivemos uma época onde se aceita com enorme “naturalidade” a escala de desigualdades e mesmo a “desumanidade” a que chegámos. A perda de vidas humanas, ainda que causada por motivos que muitas vezes se prendem com a enorme injustiça social que existe e uma criminosa distribuição de recursos, é para nós como que banal e aceite de forma totalmente passiva.

Talvez seja tempo de parar para pensar. De parar para pensar em que mundo é que queremos viver e se este está tão bem quanto nos parece (enquanto tivermos consola de vídeo jogos, automóvel e dinheiro para ir às compras no centro comercial).”


in Pereira, Pedro Jorge; “Be the Change you Want to See - uma outra perspectiva do mundo através do voluntariado”, (Porto, Planeta Terra: GAIA, 2006) p.52


A Consciência da Massa

por Nuno Michaels

http://www.nunomichaels.com/


Uma das verdades mais fundamentais - e no entanto mais difíceis de compreender - é a de que as pessoas vivem todas em diferentes níveis de consciência.

Não se assimila esse Ensinamento nas suas mais profundas implicações apenas lendo ou pensando sobre ele; há que observar a maneira como as pessoas agem, pensam, falam, sentem, reagem, vivem. O que lhes ocupa o pensamento. Como usam o tempo. O que as preocupa. Os objectivos que têm na vida. Aquilo de que falam. E então torna-se evidente que todas vivem em diferentes níveis de consciência e, até, o nível de consciência em que vivem.

A grande maioria da Humanidade vive num nível biológico-social instintivo. Nesse nível, as pessoas são condicionadas pelos valores vigentes e pela mentalidade comum. As suas identidades são uma mera extensão das normas, crenças, costumes e tabus da sociedade em que nasceram. Vivem polarizadas na sobrevivência e, se possível, na acumulação de dinheiro, poder e estatuto. No mínimo, precisam de um emprego seguro e um parceiro para acasalar e reproduzir-se. Odeiam a solidão.

Não têm ideias ou pensamentos originais; falam do que toda a gente fala, têm as opiniões que os meios de comunicação, os líderes de opinião e o status quo querem que tenham. Lêem jornais desportivos e revistas sobre programas de televisão, falam sobre pessoas e acontecimentos triviais do dia-a-dia. Gostariam que o mundo mudasse mas não começam por si próprios. Não questionam o que lhes é dito; se os seus líderes lhes dizem que os afegãos são maus e os astrólogos mentirosos, então os afegãos são maus e os astrólogos mentirosos. Assim, bovinamente, sem sequer investigarem o assunto. Consomem bens e serviços de que não precisam de facto e cujo único valor é o próprio acto de serem adquiridos e o estatuto que lhes está associado - na ilusão de que serão mais no dia em que tiverem mais.

Vivem vidas inteiras repetindo os mesmos padrões mentais e emocionais, submersos na sua própria subjectividade e incapazes de se verem objectivamente. Não fazem ideia do que são "energias", "arquétipos" ou "padrões". Não fazem ideia de que a vida é um processo de crescimento e desenvolvimento pessoal e não uma luta pela sobrevivência.

São os autómatos de que o sistema precisa para assegurar a sua reprodução e a manutenção das suas próprias estruturas. Constituem a "consciência da massa".

Libertarmo-nos da consciência da massa tem um preço muito alto. Porque os valores da sociedade são redutores, mas dão segurança - a mesma segurança que um rebanho dá a uma ovelha.

Evoluir para outro nível de consciência implica questionar e pensar por si mesmo; implica ser incompreendido e ridicularizado por quem não vê mais longe. Implica conviver com as conversas ocas, mecânicas, de quem nos rodeia. Implica ser livre. E a sociedade não gosta de indivíduos livres, porque são uma falha no sistema e um mau exemplo para os autómatos - e esses é que fazem falta, para que tudo isto funcione..."

Nuno Michaels
http://www.nunomichaels.com/


2 comments:

Cristina Gomes said...

Esse texto é de facto genial... aliás cm muitos outros dele...
E continua a ser surpreendente a forma cm somos tantas vezes ovelhas em fila atrás de um qq pastor que não chegamos nunca a ver nem sequer a imaginar...

Felizmente existem pessoas cm tu, que nos fazem acreditar na mudança, e que são um exemplo vivo da diferença!

Bem hajas :o)

PJP said...

sou somente uma pessoa como todos nós Cris, a mudança é uma linda semente dentro de cada um de nós, e tudo o que importa é mesmo sermos "nós próprios", e não é fácil pois não?

mas tenho a felicidade de saber como o és de forma tão única e especial, como só tu

Bjinho como só para ti ;O*