Do meu ponto de vista, o seguinte artigo não exprime algo de propriamente novo ou desconhecido. Ainda assim parece-me que exprimindo algo que do meu ponto de vista é óbvio, vindo de quem vem, talvez seja um bom indício de que determinados sectores da sociedade começam finalmente a não ter medo de colocar o dedo na ferida, e denunciar a realidade dos factos de forma ampla e incisiva.
Quando se fala (sublinhe-se: quando se fala) dos diversos problemas ecológicos e sociais que assolam o mundo, problemas de raíz essencialmente antropógenica, é sempre muito mais comum enunciarem-se dois ou três “lugares comuns”, frases “politicamente correctas” para a razão (ou falta dela) de ser desses problemas, do que propriamente denuciar-se a situação em toda a sua amplitude e profundidade.
O dinheiro deveria ser uma forma de facilitar as trocas de bens e produtos entre os seres humanos. Hoje em dia, muito longe dessa função primordial, o dinheiro, e a febre do lucro (sobretudo a de uma elite minoritária - os novos senhores feudais globais) adquire o valor de ideologia e dogma predominante e essa é a essência do neoliberalismo.
Um vale tudo legitimado, apoiado e protagonizado pelas principais instituições que nos “governam”, começando no Estado, passando pelos grandes interesses financeiros, até às instituições supra-nacionais como a União Europeia, FMI, OMC, Banco Mundial, etc.
Movidos por uma alucinante febre do lucro e do crescimento económico infinito, conceito doentio mas básico do sistema económico capitalista, sonega-se aquilo que é tão básico mas, ao mesmo tempo, estrategicamente esquecido:
aquilo que se pode retirar da Natureza é finito, limitado e, acima de tudo, cada vez mais claramente excessivo.
Esse é o problema dos problemas: na sociedade dita ocidental mas, acima de tudo, consumista em que vivemos, somos “ensinados” a consumir por consumir, para gerar lucro, para gastar dinheiro, para viver com muito mais do que precisamos, simplesmente porque as grandes corporações querem lucro e mais lucro, e não porque realmente precisamos de todos esses produtos (ou pelo menos grande parte dele) para viver, e, muito menos, para sermos realmente felizes e estarmos bem. Por outro lado, se realmente precisamos deles, e dos que realmente precisamos, porque será que só podemos ter acesso a eles como se de luxos de tratassem? Porque é que o direito à habitação, à alimentação, à saúde, ao ensino, à Natureza são luxos pelos quais temos que pagar exorbitâncias ao ponto de serem cada vez mais isso mesmo: luxos para os ricos.
Depois pretende-se chamar aos outros países ainda não mergulhados (ou porque não podem economicamente ou porque não querem) nessa febre consumista países sub-desenvolvidos ao mesmo tempo que se exporta para estes o “nosso modelo”, em troca da pilhagem dos ainda preservados habitates naturais desses países e da exploração do seu povo. Nada mais do que formas algo subtis e neocolonialismo rapinário e em certos casos até neo-esclavagismo.
Um outro mundo é possível, mas parte essencialmente de nós. Parte da nossa escolha em relação ao mundo que queremos de facto viver e de outras escolhas tão simples como a do que e como compramos e a de compactuarmos, ou não, como a “ordem” das coisas.
Abraços ecocêntricos,
animal humano pedro jorge
segue o texto:
A economia está a matar a Terra
Retirado de. http://pimentanegra.blogspot.com/
A economia está a matar a Terra: afinal, são eles (os economistas e os políticos) quem são os verdadeiros irresponsáveis e loucos obsessivos ( segundo a New Scientist)
Se foi preciso apenas alguns dias para que os governos da Grã-Bretanha e dos EUA abandonassem décadas de doutrinas económicas liberais ortodoxas ( a favor do mercado e da não-intervenção do Estado), para tentar salvar o sistema financeiro capitalista de um colapso, por que se há-de demorar mais tempo para se introduzir um plano para parar o colapso do planeta provocado por uma gestão e política irresponsável que poderiamos apelidar de crescimento?
Em plena crise global com os governos e os mercados financeiros preocupados com uma possível recessão mundial, a revista científica britânica New Scientist dedica a capa da sua última edição à obsessão e irresponsabilidade demonstrada pelos políticos e economistas em continuarem apostados no crescimento económico quando tal se torna comprovadamente impossível pelo um cenário de recursos finitos o que tem como efeito que a procura obsessiva por mais crescimento económico está a matar o planeta.
Por via de série de entrevistas e artigos de especialistas em desenvolvimento sustentável, a revista New Scientist no seu último número, publicado nesta semana, traça um quadro em que todos os esforços para desenvolver combustíveis limpos, reduzir as emissões de carbono e buscar fontes de energia renováveis podem ser inúteis enquanto o nosso sistema económico continuar apostado no crescimento económico.
"A Ciência diz-nos que se for para levarmos a sério as tentativas para salvar o planeta, temos que reformar a nossa economia", afirma a revista.
Segundo os analistas consultados pela publicação, o grande problema na equação do crescimento económico está no facto de que, enquanto a economia busca um crescimento infinito, os recursos naturais da Terra são limitados.
"Os economistas não perceberam um facto simples que para os cientistas é óbvio: o tamanho da Terra é fixo, nem sua massa nem a extensão da superfície variam. O mesmo vale para a energia, água, terra, ar, minerais e outros recursos presentes no planeta. A Terra já não está conseguindo sustentar a economia existente, muito menos uma que continue crescendo", afirma num artigo o economista Herman Daly, professor da Universidade de Maryland e ex-consultor do departamento para o meio ambiente do Banco Mundial.
Para Daly, o facto do nosso sistema económico ser baseado na busca do crescimento acima de tudo o mais, faz com que o mundo estejamos a caminhar para um desastre ecológico e também económico, dadas as limitações dos recursos.
"Para evitar este desastre, precisamos de mudar a nossa aposta no crescimento quantitativo para um qualitativo e impôr limites nas taxas de consumo dos recursos naturais da Terra", escreve.
"Nesta economia de estado sólido, os valores das mercadorias ainda podem aumentar, por exemplo, por causa de inovações tecnológicas ou melhor distribuição. Mas o tamanho físico dessa economia deve ser mantido num nível que o planeta consiga sustentar", conclui Daly, que compara a actual economia a um avião em alta velocidade e a sua proposta a um helicóptero, capaz de voar sem se mover.
Mas essas mudanças no sistema não serão fáceis. Na entrevista à revista, James Gustav Speth, ex-conselheiro do governo Jimmy Carter (1977-1981) e da ONU, afirma que o movimento ambiental nunca conseguirá vencer dentro do actual sistema capitalista.
"A única solução é reformarmos o capitalismo actual. Os Estados Unidos cresceram entre 3% e 3,5% por um bom tempo. Há algum dividendo deste crescimento? Existem melhores condições sociais? Não. Os Estados Unidos têm que apostar em indústrias sustentáveis, necessidades sociais, tecnologias e atendimento médico decente, e não sacrificar isso para fazer a economia crescer.", diz.
"A comunidade ambientalista, pelo menos nos Estados Unidos, é muito fraca quando falamos sobre mudança de estilo de vida, consumo e sobre sua relutância em desafiar o crescimento ou o poder das corporações. Nós precisamos de um novo movimento político nos EUA. Cabe aos cidadãos injectarem valores que reflictam as aspirações humanas, e não apenas fazer mais dinheiro.
Obsessão pelo crescimento
A revista também traz um artigo que discute o argumento de que o crescimento económico é necessário para erradicar a pobreza e que quanto mais ricos ficam alguns, a vida dos mais pobres também melhora. É a chamada Teoria do Gotejamento.
Segundo Andrew Simms, diretor da New Economics Foundation, em Londres, este argumento, além de "não ser sincero", sob qualquer avaliação, é " impossível".
"Durante os anos 1980, para cada 100 dólares adicionados na economia global, cerca de 2,20 dólares chegavam àqueles que estavam abaixo da linha de pobreza. Durante a década de 1990, esse valor passou para US$ 0,60. Essa desigualdade significa que para que os pobres estão a tornarem-se cada vez mais pobres e os ricos a ficar muito mais ricos".
"A humanidade está indo para além da capacidade da biosfera ao sustentar as actuais actividades anuais desde meados dos anos 1980. Em 2008, nós ultrapassamos essa capacidade anual em 23 de Setembro, cinco dias antes do ano anterior".
Ele ainda afirma ser impossível que um dia toda a humanidade tenha o padrão de vida dos países desenvolvidos.
"Seriam necessários pelo menos três planetas Terra para sustentar essas necessidades se todos vivessem nos padrões da Grã-Bretanha. Cinco se vivêssemos como os americanos".
Para Simms, a Terra estaria inabitável há muito tempo antes que o crescimento económico pudesse erradicar a pobreza.
Para que o mundo possa ter uma economia ecologicamente sustentável, segundo Simms, é preciso acabar com o preconceito de alguns em relação ao conceito de "redistribuição", que, para ele, é o único modo viável de acabar com a pobreza.
"Só foi preciso alguns dias para que os governos da Grã-Bretanha e dos EUA abandonassem décadas de doutrinas económicas para tentar resgatar o sistema financeiro de um colapso. Por que tem que demorar mais para introduzirem um plano para deter o colapso do planeta trazido por uma conduta irresponsável e ainda mais perigosa chamada obsessão pelo crescimento?".
Fonte: BBC Brasil